quinta-feira, 14 de maio de 2009

Deliciosa perdição

A terrível e saborosa submissão ao desejo é uma vitória cruel e uma deliciosa derrota.
Os jogos de sedução, de que a Lola que cada um de nós encontra é capaz, são sofrimento, castigo, tortura. São, no fim de contas, compensações ténues que aceitamos com tanta insaciedade.
Como se só da crueldade - mútua, que nenhum castigo deixa de marcar ambos os corpos - nascessem sentimentos mais sinceros e pungentes.
Sim, certamente resistimos, forçando-nos a ser lógicos, desprovendo-nos de emoções, como se fôssemos os nossos próprios mestres.
Mas não há autodomínio que vença a inabalável vontade de nos rendermos nas mãos de quem não conseguimos entender, mas por quem sentimos sem medida.
O livro, um relato feito com toda a lógica, quase um relatório consciencioso, não consegue esconder a natureza sedutora e irresistível da mulher que está por detrás de tanto infortúnio.
O livro, como o próprio ser humano bem sabe, demonstra que a força da razão perderá sempre para o mistério da emoção.
Lola é a insinuação da perdição de cada um de nós.

Mas mais do que as minhas palavras, é a voz lânguida, insinuante e lúbrica de Sarah Vaughan que tão perfeitamente resume este livro, ainda que a canção não fale desta Lola.
Talvez, no final de contas, todas as Lolas sejam assim...




















Um obscuro objecto de desejo (Pierre Louys)
Bico de Pena
1ª Edição - Abril de 2009
112 páginas

1 comentário: