terça-feira, 19 de maio de 2009

A premissa que não foi

A mulher que Deus (verdadeiramente) criou revela-o como um homem pleno de desejo e engenho.
Ela é o que cada Homem queira que ela seja - hoje Rita Hayworth, amanhã Cleópatra e assim por diante - porque Deus quer companhia, mas não quer restrições.
Mas esta mulher quer vingança pela falta de amor e nada melhor do que algumas ogivas nucleares prontas a usar durante a Guerra do Golfo.
A premissa, arrojada e complexa, cheia de possibilidades, recria a História com a sua ponta de Fantástico, incutindo-lhe ironia e humor num (quase-)thriller.
A premissa, arrojada e complexa, cheia de possibilidades, exigia uma mão firme e precisa.
Mas a mão não o é suficientemente.

Lail-Ah, o Divórcio de Deus pisa muitas vezes os caminhos certos, mas outras tantas resvala.
A ironia desmistificadora da dinvidade surge em momentos conseguidos que colocam Deus ao nível dos homens ou vice-versa. O humor que se bate frontalmente com o leitor segue-lhe os passos.
Só que o thriller, aquilo que deveria ser a desculpa unificadora de uma brincadeira salutar mas não menos arriscada, acaba por comandar demasiadas vezes a globalidade do sentido deste livro.
E como thriller, convencional convenhamos, tem falhas evidentes, episódios desconexos que se permitem esquecer personagens importantes, Lail-Ah acima de todas as outras.
No global, a premissa é o que de melhor tem este livro e isso é uma pena.

Não poderia acabar sem uma nota de apreço à bela capa.
Não só pela figura ruiva que sobressai (perdoar-me-ão a nota pessoal de apreço ao longo desta crónica a tal cor de cabelo), mas por toda a sua composição cuidada, das cores aos detalhes.
O autor da capa mostra o seu trabalho nessa área aqui.


















Lail-Ah, o Divórcio de Deus (H. James Kutscha)
Mill Books
1ª Edição - Janeiro de 1998
176 páginas

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