terça-feira, 7 de maio de 2013

Lição sobre a simplicidade que não existe mais

Conversar com Andrea Hirata é compreender que, enquanto crítico, haverá sempre momentos em que não conseguimos assumir a condição do próprio escritor no momento em que criou a sua obra.
Há sempre momentos em que um crítico não tem o mesmo conjunto de referências do autor e não consegue, em plenitude, perscrutar os significados de uma obra. Mas neste caso refiro-me, precisamente, do oposto.
A impossibilidade de abdicar as noções que os muitos anos de leituras incutiram e que são os recursos usados para "confrontar" cada novo livro.
Dado que Os Guerreiros do Arco-Íris é um texto criado em resposta a uma promessa de infância que só por acaso se transformou num livro, julgá-lo severamente pode ser um erro.
Sobretudo com a distância que vai da realidade Portuguesa à Indonésia - e, no seio desta última, daquela minúscula ilha - e o papel que este livro teve para os muitos milhões que no país de Hirata leram a obra e encaram agora a Educação de maneira diferente.
Aliás, a descontração com que o autor encarava o facto de, entre esses milhões de leitores, serem quase tantos os que leram a obra oficial como os que a leram por via de cópias dá em a noção do quanto Andrea Hirata se preocupa menos com a sua relevância literária do que com a sua relevância social.
Como consequência, o destaque do seu discurso vai para a Escola/Biblioteca/Museu do livro que criou na sua terra natal e não para as três sequelas que escreveu a este livro.
Como escritor, Hirata é um interlocutor fugidio. Embora não se esquive a nenhuma pergunta "mais difícil" (palavras dele) não deixa de dar algumas respostas vagas.
É com elas que deixa aos leitores o trabalho de análise e interpretação e protege a inocência com que se lançou para a concretização do desígnio que era o seu primeiro livro.
Só relutantemente Hirata se considerará escritor, lamentando as muitas questões que os seus editores ocidentais agora lhe colocam e afirmando que escreveu o seu primeiro livro com muita facilidade mas a partir do segundo demora muito mais tempo, porque quanto mais sabe sobre Literatura mais difícil se torna saber como escrever um livro.
A conversa que Hirata veio ter em Lisboa acabou por ser conduzida pelo homem e não pelo autor. Um homem extremamente afável que se dá por feliz por conseguir carregar nas palavras que escreve uma mensagem que muitas pessoas querem captar.
Isso fez com que aceitasse com enorme boa vontade algum tom crítico que possa ter passado nas perguntas que lhe fiz depois da conversa em grupo. O essencial dessa entrevista pode ser visto no vídeo abaixo.



1 comentário:

  1. Foi isso mesmo, simplicidade - trazer uma história simples à ribalta e permitir divulgar o sonho, a realidade daqueles meninos em sonhos!
    Parabéns pelo teu trabalho.
    --
    Boas Leituras,
    Cris Rodrigues aka Efeitocris
    *
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