Bernard Cornwell tem uma vastíssima carreira, mas se me dediquei à leitura deste livro foi pela sua temática e não por uma qualquer noção de popularidade do seu nome e uma associada necessidade de não permanecer na ignorância perante o seu trabalho.
Se essa falta de expectativa ajudou a apreciar mais o livro, não o posso garantir, mas a verdade é que fiquei agradavelmente surpreso com a concretização do livro.
Torna-se bastante óbvio que a guerra é o ambiente ideal para para o escritor, que não só lhes dá imensa vida como as torna num verdadeiro clímax quer das tramas das personagens quer da própria História em que as insere.
Cornwell tem uma inspirada capacidade para descrever essas cenas de batalha, não descuidando a emoção dos combates à escala individual no seio das importante tácticas a considerar.
Diria que o equilíbrio entre a macro-história e as micro-histórias é mesmo o facto preponderante do livro.
Os muitos elementos históricos - ou o seu rearranjo realista e coerente para melhor servir o livro - são usados com abundância para criar um ambiente tão elucidativo quanto emocionante.
Mas o ambiente em que as personagens se movem tem, igualmente, o charme mítico que se criou na mente global desde - e sobretudo com - Gone with the Wind.
A escolha do cenário do lado dos Estados Confederados adiciona um elemento menos habitual a este tipo de histórias. Seja porque o lado vencedor é, normalmente, aquele mais explorado, seja porque a moralidade da escravatura a evitar a história do Sul.
Mas o autor esquiva-se com bastante inteligência a essa armadilha das considerações sobre a manutenção da escravatura.
Na verdade, os nichos geográficos e sociais em que o autor coloca o protagonista - um Nortista - ajudam a que o autor revele igualmente a existência de uma certa desconsideração Sulista pela escravatura.
Tal como revela, de forma ainda mais interessante, alguns motivos menos nobres que levaram à composição de alguns dos exércitos que viriam a entrar na Guerra Civil Americana.
Tudo isto seria de interesse menor não fosse a ligação de todos os elementos proporcionada pelo protagonista, Nathaniel Starbuck.
As crónicas deste indivíduo mostram-no como uma personagem complexa - um estudante de Teologia altamente seduzível por qualquer elemento do sexo oposto, um jovem que se junta ao exército por medo mas acaba por se transformar num dos seus maiores valores, só para dar alguns exemplo - evoluindo com as situações que vão surgindo e seduzindo o leitor com o seu comportamente imprevisível e conduzido pelas mais inesperadas circunstâncias.
Uma saga que seguirei com interesse sincero daqui em diante e, eventualmente, um autor cuja obra terei de abordar com mais abrangência.
Rebelde (Bernard Cornwell)
Saída de Emergência
1ª edição - Outubro de 2012
368 páginas
O único problema das crónicas do Starbuck é o facto de Bernard Cornwell não publicar um livro desta saga desde 1996, estando esta incompleta. Ainda que o autor já tenha anunciado o seu desejo de continuar e finalizar a mesma, na realidade neste momento tem andado de volta das crónicas de Uthred, da saga dos saxões.
ResponderEliminarMas realmente este autor tem um espólio literário vasto e com grandes contributos ao nível dos apontamentos históricos, e cria, sem dúvida, romances que nos fazem ler sem parar. É uma boa escolha literária para quem gosta do género.