Esta é uma história que, no essencial, equilibra duas vertentes: o estreitamento de uma relação entre pai e filho e a exploração da sobrevivência em ambiente hostil.
Esse equilíbrio é bem conseguido, num ambiente de ficção científica com consciência ambiental que só acresce ao interesse da história.
Fá-lo tornando a Terra num ambiente hostil apontada contra os próprios seres humanos e mostrando elementos de uma tecnologia futura mais consciente do que espectacular.
Em geral isto era o que já havia dito sobre o filme, que vi antes desta leitura. Mas o livro beneficia de acrescidas qualidades para merecer atenção mesmo depois de se conhecer o filme.
Claro que essa situação levou a que a leitura se parecesse muitas vezes como uma reposição. Mas se os momentos dramáticos mais importantes são os mesmos, há uma muito melhor composição narrativa.
Além de que, não importa o talento de M. Night Shyamalan como contador de histórias (no sentido lato que tem ser argumentista e realizador ao mesmo tempo), Peter David bate-o em experiência e em talento, até mesmo quando ao domínio da palavra acrescenta o da imagem, como a sua excelente primeira passagem por Hulk demonstrou.
Peter David consegue tornar as persongens mais do que arquétipos ao serviço de uma ideia final, dando substância aos seus comportamentos com uma assinalável economia de meios que não descura o cuidado que a mesma merece a todo o momento.
O trabalho de Peter David benificia ainda da importante inclusão de elementos significativos que não terão tido espaço no filme e que acrescentam à relação entre pai e filho aqui descrita.
Esses elementos são os vários capítulos que se referem ao passado, desde os momentos ainda antes da Terra ter de ser evacuada, saltando por várias gerações até ao Presente.
A palavra gerações é mesmo a mais correcta, visto que esses capítulos se referem sempre a elementos da linha da família Raige.
Assim, esses momentos do passado servem para mais do que exposição dos elementos essenciais do Universo em questão - mesmo se as questões tecnológicas continuassem a precisar de mais contextualização - mas, ainda mais do que isso, serve para criar um peso do nome daquela família que tem uma súbita clivagem na relação entre este pai que a leva por diante com enorme brilho e aquele filho que lhe sobra e que não crê estar à altura e que acha ter sido o culpado da morte da sua irmã - ela sim a digna continuadora daquela família.
Peter David controla todos os elementos que tem em mão com um enorme talento. Trata-se daquela qualidade de um escritor de talento que sabe quando tem de se dedicar a contar uma história o melhor possível ainda antes de procurar o melhor das palavras.
No fundo, aquilo que a palavra inglesa resume melhor do que o nosso "contador de histórias", um storyteller de talento.
After Earth - Depois da Terra (Peter David)
Saída de Emergência
1ª edição - Junho de 2013
240 páginas
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