quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Título e personagem errados

O protagonista de Pânico é um realizador de documentários que, mal a realidade sai dos eixos da normalidade, se convence de que tem de se transformar num herói de acção.
O momento dessa transformação define o fundamental do livro, um chorrilho de cenas de acção protagonizadas por um tipo que se revela extraordinário sem que se vislumbre qualquer razão no seu Passado para tal.
Enquanto, em paralelo, as suas habilidades de documentarista - o olho para os detalhes, a capacidade de pesquisa, a manipulação da informação em favor de efeitos emocionais pretendidos (arrisco eu dizer que seriam estes ou não estaria nomeado ao Oscar) - não lhe servem de qualquer propósito. E nem creio que sejam mencionados de passagem.
O seu estatuto de espião e herói, nascido da sua mera força de vontade, equipara-se ao de Ethan Hunt e torna-o mais capaz até do que aquela que fazia o papel sua namorada e que fora treinada pela CIA.
Esta personagem implausível e mal construída envolve-se numa trama que se há-de complicar com o Passado familiar que a colocou em marcha, mas que no essencial é a narrativa de um homem em fuga.
Isso coloca-nos perante um thriller monótono por ser igual a tantos outros que já vimos.
O verbo escolhido é o correcto pois esta vertigem de menos de uma semana, que passa por Londres e Miami além de vários outros locais dos E. U. A., se parece com o esquema de um guião.
A única qualidade que posso reconhecer à escrita quase anónima de Abbott é que não sobrecarrega as descrições com detalhes de um realismo limitativo de tão meticuloso (e, por isso, inútil).
Só as ideias sobre o Passado dos personagens "secundários" - embora não sendo totalmente originais - merecem alguma atenção, por lidarem com questões de oposição entre lealdades pátria e familiar.
Mas essa atenção resulta numa única conclusão, de que era preferível ler sobre toda essa complicada história que exigia muito da construção das personagens, num thriller menos agitado mas de mais substância emocional.
Porque é que este livro vende abundantemente permanece um mistério, à parte o título sumário de marketing fácil.
Um título incompreensível, visto que pânico deve ser a única emoção que o protagonista não sente a partir do momento (quase inicial) em que racionaliza o seu próprio heroísmo...


Pânico (Jeff Abbott)
Civilização Editora
4ª edição - Setembro de 2007
468 páginas

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