domingo, 25 de agosto de 2013

Rocambolesco mas não absurdo

Trata-se apenas do segundo livro destes autores a que temos acesso, mas nota-se que os modelos literários para os seus conteúdos se distinguem por estarem próximos de Umberto Eco, mesmo se a forma continua próxima da de outros escritores mais vendidos por estes dias.
Está tudo na dedicação à erudição, à sabedoria escrita, às possibilidades extraordinárias proporcionadas pelo conhecimento e os perigos a ela associada.
Não que tenham desaparecido os destinos atractivos, os enigmas atraentes ou as perseguições por passagens secretas.
Tudo isso faz parte do jogo moderno de atracção do leitor, mas nota-se já uma vontade de continuar a explorar os momentos históricos que se relacionam com a trama corrente.
A narrativa passada em 1355 e protagonizada por Nicolas Flamel, apesar de surgir em capítulos breves intercalados com os do tempo presente como é típico dos thrillers actuais, poderia ser lida de forma independente.
A sua relevância para o thriller não é de tal ordem que não pudesse ser substituída por duas páginas de exposição por parte de um dos intervenientes "modernos".
Poderíamos considerar essa linha narrativa um "drama biográfico" de que os autores poderiam ter feito um outro e mais longo livro - até por ser o mais interessante, já que do lado do thriller, há alguns simbolismos demasiado evidentes que tornam parte da narrativa previsível.
Mas a relação do alquimista com a moderna cobiça é demasiado boa para os autores resistirem a inventá-la - como os próprios revelam nos anexos que, mais uma vez, servem para separar realidade e ficção.
Com a Pedra Filosofal em jogo, o ambiente do primeiro livro repete-se, cheio de mistérios e esoterismo, mas sem deixar de tentar manter-se colado ao realismo credível possível.
Neste livro esse realismo é muito mais difícil de manter, como se verá acerca das revelações sobre a Torre Eiffel, mas a estrutura narrativa é sólida e coerente, sem falhas assinaláveis e com uma plausibilidade muito bem sustentada dentro desse espaço um pouco mais lato pela imaginação dos autores.
Além de que as considerações acerca da democracia e dos direitos civis ajudam a isso mesmo e contribuem para a sempre presente missão de acompanhar o entretenimento de enriquecimento cultural.
Pela História da maçonaria, é credível que ainda muitos elementos possam vir a servir de matéria-prima a novos mistérios.
A novidade do meio onde se passam estes mistérios arrisca esgotar-se. Contra isso funciona a qualidade do protagonista, cujas componentes de personalidade possivelmente conflituosas - polícia e erudito - ajudam a ir formando vagarosamente um retrato completo do homem.
Um retrato que queremos conhecer por completo e que incentiva a ir lendo outro e outro dos romances por si protagonizados.
Até porque a sua personalidade dentro da maçonaria é a de elemento nobre, que se diverte ouvindo num bar teorias absurdas sobre a sua sociedade discreta mas se irrita quando a sua filiação o leva a ser usado como divertimento num jantar elitista.
Esta terceira aventura (segunda em Portugal) de Antoine Marcas confirma-o como uma personagem a seguir e aos autores como exemplos melhores de um género popular cujo filão merece ser diversificado antes que se esgote num único formato.


O Irmão de Sangue (Jacques Ravenne e Eric Giacometti)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Maio de 2013
440 páginas

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