quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O épico do pequeno país


Comprar uma casa é comprar uma história de família. Comprar uma história de famíia é comprar uma história da vila. Comprar uma história da vila é comprar uma história do país. Comprar uma história do país é comprar uma história das pessoas.
O contador vai descobrindo a história que podia ser um fôlego longo sobre uma vila do interior de Portugal ou um retrato julgador do círculo fechado das vidas sempre cosidas umas às outras. Não é mas mesmo assim passa por ser o épico de famílias grandes e homens sós.
Um épico corrido sobre a realidade nacional, uma realidade que atravessa o Atlântico e que, nem por isso, deixa de ser uma realidade vilanesca.
Em vez dos personagens memoráveis ao serviço de um grande amor temos a tormenta de muitas pequenas personagens em um único novelo de pequenos dramas.
O épico deste país corre em poucas páginas - contadas contra a dos grandes romances de outros países - e sempre com um entendimento rústico da nossa grandeza.
Um épico com um olhar que nos sabe pequenos mesmo quando a nossa pequenez é feita da humildade à cabeça erguida de quem conquistou o mundo e partilhou a Língua em todos os continente.
Um épico que cobre muitas décadas sem um friso por onde seguir em linha recta. Segue pelos caminhos inconstantes que falam da própria arte de contar.
A memória não tem fluxo constante nem percurso suave. E, como tal, o acto de contar a história de uma personagem não se deixa limitar.
Vagueia no tempo a personagens que lhe estão antes e depois, que falam sobre dela ou que ouvem (e recontam) sobre ela. Passeia pelo Tempo, perdendo-se para reencontrar temas que são eternos, para as personagens e para o interior do país a que estão condenadas.
O contar a história é um acto que salta de género em género até que do folhetim de onde partiu encontra a poesia.
Dos saltos se fez épico. Dos dados no Tempo para atravessar gerações de uma história só. Dos dados na escrita para atravessar os talentos de um país só.
Todas as histórias são iguais. Todas as Eras são iguais. Nenhuma escrita é igual.
O verdadeiro épico é o da demanda pela linguagem original, sem restrições na sua mistura, louvando o muito que este país soube (e sabe) escrever.
Para um país pequeno um épico verdadeiro será sempre do que fez com a Língua para se engrandecer no mundo!



O Prazer e o Tédio (José Carlos Barros)
Oficina do Livro
1ª edição - Junho de 2009
192 páginas

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