Não é uma moda nova, mas parece agora crescente entre os leitores mais jovens, uma espécie de nova elite de bibliófilos.
Essa moda é a de afirmar que só lêem no original, não nas traduções que "empobrecem e deturpam" o texto original, quer na sua qualidade de escrita, quer nos seus pormenores ininteligíveis senão no original.
Não tenho nada contra tal opinião. É, em muitos casos, verdade, e eu próprio opto com alguns livros por escolher a edição original e debater-me com a minha própria pobreza (relativa) de vocabulário.
Mas esta opinião envolve um problema de atitude que parece uma arrogância de carácter e uma formatação cultural: esses originais tratam-se apenas de livros em língua inglesa.
De entre todos os motivos que haveria para optar entre as edições inglesas (ou americanas) - o preço menor, a mais rápida tradução ou a maior variedade de escolha - eles limitam-se a escolher um que parece prestigiante mas que mostra o quanto a sua cultura está reduzida à do mundo em língua inglesa.
E, apesar de todos esses motivos à escolha, esperar-se-ia que num mundo que, do cinema à internet, se encontra suficientemente anglicizado, essa mesma elite bibliófila optasse por cultivar o gosto pela sua própria língua, assim exigindo a constante elevação da qualidade das traduções e do trato com a língua portuguesa.
Essa moda é a de afirmar que só lêem no original, não nas traduções que "empobrecem e deturpam" o texto original, quer na sua qualidade de escrita, quer nos seus pormenores ininteligíveis senão no original.
Não tenho nada contra tal opinião. É, em muitos casos, verdade, e eu próprio opto com alguns livros por escolher a edição original e debater-me com a minha própria pobreza (relativa) de vocabulário.
Mas esta opinião envolve um problema de atitude que parece uma arrogância de carácter e uma formatação cultural: esses originais tratam-se apenas de livros em língua inglesa.
De entre todos os motivos que haveria para optar entre as edições inglesas (ou americanas) - o preço menor, a mais rápida tradução ou a maior variedade de escolha - eles limitam-se a escolher um que parece prestigiante mas que mostra o quanto a sua cultura está reduzida à do mundo em língua inglesa.
E, apesar de todos esses motivos à escolha, esperar-se-ia que num mundo que, do cinema à internet, se encontra suficientemente anglicizado, essa mesma elite bibliófila optasse por cultivar o gosto pela sua própria língua, assim exigindo a constante elevação da qualidade das traduções e do trato com a língua portuguesa.
Por isso, sempre que oiço tal afirmação, há uma irritação que logo de mim se destila, fazendo-me perder qualquer assomo de graciosidade para perguntar irritado Então e lês russo? Japonês, talvez? Ao menos francês e italiano? Espanhol, pronto?
A resposta é sempre a mesma por parte do meu interlocutor, um embaraço silencioso.
Eu conheço as minhas limitações e confesso-as.
Leio em português e em inglês com a mesma fluência mas prefiro evitar ficar a matutar no sentido de uma palavra até conseguir ter um dicionário comigo, pelo que prefiro a minha própria língua.
Já em francês, se na banda desenhada não me atrapalho, ao tentar ler o Metamorfose dei por mim a sentir-me burro.
Quanto ao italiano, tendo comprado igualmente banda desenhada quando visitei Veneza, a parecença com o português não é suficiente para evitar que tenha de, muitas vezes, tirar o sentido da frase pelo da imagem.
De espanhol sei o que apanho dos filme de Almodóvar, o que dá para pedir direcções do outro lado da fronteira mas nunca para ler convenientemente.
Se me tivesse rendido a essa ideologia de "ler apenas o original", então teria perdido a riqueza dos clássicos russos, dos poemas épicos gregos e da diversidade das letras espanholas que existem por esse mundo fora e que sempre foram tão bem tratadas entre a edição nacional.
Seria um leitor pobre e arrogamente isolado.
A menos que Juan Rulfo, Fiódor Dostoiévski e Ésquilo sempre tenham escrito em inglês e eu não soubesse do assunto.
A resposta é sempre a mesma por parte do meu interlocutor, um embaraço silencioso.
Eu conheço as minhas limitações e confesso-as.
Leio em português e em inglês com a mesma fluência mas prefiro evitar ficar a matutar no sentido de uma palavra até conseguir ter um dicionário comigo, pelo que prefiro a minha própria língua.
Já em francês, se na banda desenhada não me atrapalho, ao tentar ler o Metamorfose dei por mim a sentir-me burro.
Quanto ao italiano, tendo comprado igualmente banda desenhada quando visitei Veneza, a parecença com o português não é suficiente para evitar que tenha de, muitas vezes, tirar o sentido da frase pelo da imagem.
De espanhol sei o que apanho dos filme de Almodóvar, o que dá para pedir direcções do outro lado da fronteira mas nunca para ler convenientemente.
Se me tivesse rendido a essa ideologia de "ler apenas o original", então teria perdido a riqueza dos clássicos russos, dos poemas épicos gregos e da diversidade das letras espanholas que existem por esse mundo fora e que sempre foram tão bem tratadas entre a edição nacional.
Seria um leitor pobre e arrogamente isolado.
A menos que Juan Rulfo, Fiódor Dostoiévski e Ésquilo sempre tenham escrito em inglês e eu não soubesse do assunto.
Só leio em Português, perderia o ritmo lendo em outra língua que não a minha. Andar com dicionário atrás?? Nem pensar, isso para não falar que poderia sair outra história ahahah
ResponderEliminarGostei muito do post.
Mais uma vez está de parabéns!!
Eu leio Vergílio no original latino! Isso sim é uma verdadeira arrogância literária apenas superada por dizer-se que se leu a epopeia de Gilgamesh no original.
ResponderEliminarA tradução é em si mesma campo rioo de exploração que não devia ser tão prontamente desprezado. Há prazer em ler no original tal como há prazer em ler uma boa tradução. Há mesmo prazer em descobrir num livro onde o tradutor e onde o autor.
Esses meninos que leiam os 7 longos volumes de "La recherche dum temps perdu" no original francês para entenderem o quanto avle uma boa tradução.