Bastou ler este livro uma vez para colocar Michael Chabon entre os meus autores favoritos, aqueles autores que têm um lugar especial entre as prateleiras lá de casa.
O tema, a idade de ouro da banda desenhada americana, ajudou. Foi esse o primeiro motivo que me levou ao livro.
O meu fanatismo pela nona arte - uso o termo por hábito, embora tenha dúvidas sobre a ordem dada por Ricciotto Canudo e sobre o seu prolongamento, até porque em mais do que um caso vem sendo reinvindicada esta posição em particular para a Gastronomia - deu-me o motivo para chegar à obra e a expectativa de me apaixonar rapidamente por ele.
Porém não me deu o entendimento para o que poderia estar prestes a descobrir - certamente na altura não fazia ideia, por desinteresse, do que é ou do que representa o Prémio Pulitzer.
O livro de Chabon revelou-se magnífico na altura e revela-se magnífico hoje.
Relê-lo hoje foi descobrir novas maravilhas em passagens que anteriormente tinham ficado escondidas pela força de outras.
Relê-lo hoje é verificar que os personagens ainda guardam traços que estão para lá da imagem que guardei deles.
O que, por outro lado, nunca foi esquecido e que nunca deixará de funcionar maravilhosamente é a profundidade dramática de Chabon num cenário que prometia ser mais adequado a um divertimento e a sua ambição na construção de um livro que seja, tanto pelo conteúdo como pelo estilo, um pedaço das décadas sobre as quais escreve.
Mais ainda, a pura criatividade e talento literário de Chabon colocam no livro algo que, longe de ser fundamental, lhe dá um fascínio maior. Falo dos capítulos praticamente autónomos - reli-os isoladamente ao longo dos anos - em que ele descreve os personagens e as histórias de banda desenhada que os seus próprios personagens criam ao longo do livro.
E a forma como ele o faz, com a delineação das palavras a conseguir o que nenhum grande artista seria capaz de recriar - basta comparar esses capítulos com os comics publicados pela Dark Horse.
Este livro ficará inscrito na História literária, acima de tudo pela sua qualidade, mas igualmente porque o seu retrato fulgurante da cultura popular de meados do século XX será parte da forte memória que a ficção lança para o futuro.
A banda desenhada americana tem influência no percurso americano, os bastidores da sua criação são tão importantes como as efemérides do surgimento dos super-heróis nas suas páginas.
O tema do livro poderá parecer incomum e uma escolha estranha para os leitores de grande exigência que não estão familiarizados ou desacreditam a banda desenhada, mas o tema não estará longe de ter a mesma relevância para o século XX como as guerra Napoleónicas tiveram para o século XIX.
E não me parece difícil que, no futuro, a obra monumental de Chabon possa ser vista numa perspectiva semelhante à de Tolstói.
O tema, a idade de ouro da banda desenhada americana, ajudou. Foi esse o primeiro motivo que me levou ao livro.
O meu fanatismo pela nona arte - uso o termo por hábito, embora tenha dúvidas sobre a ordem dada por Ricciotto Canudo e sobre o seu prolongamento, até porque em mais do que um caso vem sendo reinvindicada esta posição em particular para a Gastronomia - deu-me o motivo para chegar à obra e a expectativa de me apaixonar rapidamente por ele.
Porém não me deu o entendimento para o que poderia estar prestes a descobrir - certamente na altura não fazia ideia, por desinteresse, do que é ou do que representa o Prémio Pulitzer.
O livro de Chabon revelou-se magnífico na altura e revela-se magnífico hoje.
Relê-lo hoje foi descobrir novas maravilhas em passagens que anteriormente tinham ficado escondidas pela força de outras.
Relê-lo hoje é verificar que os personagens ainda guardam traços que estão para lá da imagem que guardei deles.
O que, por outro lado, nunca foi esquecido e que nunca deixará de funcionar maravilhosamente é a profundidade dramática de Chabon num cenário que prometia ser mais adequado a um divertimento e a sua ambição na construção de um livro que seja, tanto pelo conteúdo como pelo estilo, um pedaço das décadas sobre as quais escreve.
Mais ainda, a pura criatividade e talento literário de Chabon colocam no livro algo que, longe de ser fundamental, lhe dá um fascínio maior. Falo dos capítulos praticamente autónomos - reli-os isoladamente ao longo dos anos - em que ele descreve os personagens e as histórias de banda desenhada que os seus próprios personagens criam ao longo do livro.
E a forma como ele o faz, com a delineação das palavras a conseguir o que nenhum grande artista seria capaz de recriar - basta comparar esses capítulos com os comics publicados pela Dark Horse.
Este livro ficará inscrito na História literária, acima de tudo pela sua qualidade, mas igualmente porque o seu retrato fulgurante da cultura popular de meados do século XX será parte da forte memória que a ficção lança para o futuro.
A banda desenhada americana tem influência no percurso americano, os bastidores da sua criação são tão importantes como as efemérides do surgimento dos super-heróis nas suas páginas.
O tema do livro poderá parecer incomum e uma escolha estranha para os leitores de grande exigência que não estão familiarizados ou desacreditam a banda desenhada, mas o tema não estará longe de ter a mesma relevância para o século XX como as guerra Napoleónicas tiveram para o século XIX.
E não me parece difícil que, no futuro, a obra monumental de Chabon possa ser vista numa perspectiva semelhante à de Tolstói.
As espantosas aventuras de Kavalier & Clay (Michael Chabon)
Gradiva
1ª edição - Abril de 2003
672 páginas
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