Com DMZ Brian Wood trouxe a guerra para o coração de um país que, depois da sua Guerra Civil, não mais sentiu o conflito no seu próprio território.
Sendo esse coração Manhattan, zona onde está a única ferida no tecido geográfico e sentimental norte-americano, o trabalho tem tanto de estima como de dor.
Manhattan está entregue ao conjunto de habitantes que restou, mas está também na ponta do mapa que os dois exércitos pretendem conquistar. A ferida americana tem de ser protegida e estimada, tem de ser do povo mas é nela que é preciso esgravatar se se pretende acordar a consciência desse mesmo povo.
Aqui mostra-se claramente o que é a guerra a um povo para quem os mais violentos conflitos do século XX existiram apenas de forma quase imaterial, mesmo quando contestados profundamente.
A violência era sempre levada pelos soldados americanos até a um outro país e apenas era devolvida aos familiares que enviavam familiares para a frente de batalha e recebiam de volta nada mais que condolências.
A ficção de DMZ faz o assentimento de que os EUA precisa de compreender de forma directa o que é a guerra e o que ela comporta.
DMZ coloca os EUA no papel inverso, o papel que nunca teve, o papel de invadido ao invés de invasor.
A partir daí a ficção plena de força retrata com bastante sentido de oportunidade, ou não tivesse acompanhado temporalmente o clima político e social difícil que viviam, e com bastante compreensão da realidade, como o prefácio de um soldado americano a um dos volumes atesta, a possibilidade de uma guerra de dentro para dentro.
O primeiro passo da série é criar uma noção imediata de reconhecimento e plausabilidade. Dar uma vida ao espaço, com igual extensão de diferenças e peculiaridades como tinha no momento em que lá não existia guerra.
Isso é mais claro e mais bem sucedido quando se vê no final de DMZ: Body of a journalist um dossier jornalístico sobre a vida na cidade, com referência a locais frequentados, entrevistas de rua e fanzines ou livros como objectos culturais lá nascidos.
Dar uma vida a um tempo característica das condições criadas mas com um grande paralelo com a realidade americana presente.
Tendo esse ponto conseguido, tendo estabelecido uma vida para a sua personagem central em traços largos, a série persegues temas críticos.
Em DMZ: Body of a journalist é a manipulação de imprensa e da informação, a forma como o jornalista é usado e abandonado, como a sua vida é manobrada real e virtualmente e como a informação é sempre uma ferramenta com um intuito preciso. O problema é que a informação é, pois, forjada e forjar ainda tem dois significados antagónicos...
DMZ: Friendly fire é mais cruel ainda e desnuda a violência de que são capazes os soldados e o povo. É um alerta para a perda da inocência causada, para a realidade oca da elevada moralidade local.
O julgamento do que é a verdadeira realidade de um soldado no espaço do conflito, da evidência não desculpabilizante dos erros possíveis de ocorrerem, passa depois a ser também a divisão de culpas entre quem lá está e quem manifesta o sentimento que esses soldados apenas exprimiram com a força das circunstâncias que lhes atiçaram.
Só a história de DMZ: Public works é que me parece ter surgido cedo demais na narrativa global. Os interesses económicos de uma guerra eram uma constatação urgente, mas os resultados práticos da abordagem feita não são ideais.
Este pedaço de narrativa não é tão forte como os restantes e fica enclausurado na demonstração de um argumento. Se esta história não existisse o resultado para as vidas desenhadas era o mesmo.
Claro que DMZ, sendo uma série de banda desenhada, não conseguirá atingir o público que verdadeiramente deveria.
A maioria dos que o lerem já terão consciência da realidade, já terão acesso à informação e um sentido crítico às ocorrência bélicas em que o seu país se envolve.
Nem por isso a utilização de um meio popular e tão facilmente acessível deve ser menos do que evidenciada, sobretudo nesta forma que por pouco não será, para bastantes pessoas, um incentivo à rebelião e ao terrorismo.
Não é, pois como já disse, há um carinho na construção de uma comunidade sensível em torno do ground zero, por isso para os restantes de nós, leitores com uma perspectiva distinta, com um entendimento multifacetado tanto da vida interna como da presença externa dos EUA, toda a série se mostra como uma obra de ficção de alto nível.
Se não precisamos dela para ganhar consciência, pelo menos podemos apreciá-la sem rodeios nem julgamentos imprecisos.
Sendo esse coração Manhattan, zona onde está a única ferida no tecido geográfico e sentimental norte-americano, o trabalho tem tanto de estima como de dor.
Manhattan está entregue ao conjunto de habitantes que restou, mas está também na ponta do mapa que os dois exércitos pretendem conquistar. A ferida americana tem de ser protegida e estimada, tem de ser do povo mas é nela que é preciso esgravatar se se pretende acordar a consciência desse mesmo povo.
Aqui mostra-se claramente o que é a guerra a um povo para quem os mais violentos conflitos do século XX existiram apenas de forma quase imaterial, mesmo quando contestados profundamente.
A violência era sempre levada pelos soldados americanos até a um outro país e apenas era devolvida aos familiares que enviavam familiares para a frente de batalha e recebiam de volta nada mais que condolências.
A ficção de DMZ faz o assentimento de que os EUA precisa de compreender de forma directa o que é a guerra e o que ela comporta.
DMZ coloca os EUA no papel inverso, o papel que nunca teve, o papel de invadido ao invés de invasor.
A partir daí a ficção plena de força retrata com bastante sentido de oportunidade, ou não tivesse acompanhado temporalmente o clima político e social difícil que viviam, e com bastante compreensão da realidade, como o prefácio de um soldado americano a um dos volumes atesta, a possibilidade de uma guerra de dentro para dentro.
O primeiro passo da série é criar uma noção imediata de reconhecimento e plausabilidade. Dar uma vida ao espaço, com igual extensão de diferenças e peculiaridades como tinha no momento em que lá não existia guerra.
Isso é mais claro e mais bem sucedido quando se vê no final de DMZ: Body of a journalist um dossier jornalístico sobre a vida na cidade, com referência a locais frequentados, entrevistas de rua e fanzines ou livros como objectos culturais lá nascidos.
Dar uma vida a um tempo característica das condições criadas mas com um grande paralelo com a realidade americana presente.
Tendo esse ponto conseguido, tendo estabelecido uma vida para a sua personagem central em traços largos, a série persegues temas críticos.
Em DMZ: Body of a journalist é a manipulação de imprensa e da informação, a forma como o jornalista é usado e abandonado, como a sua vida é manobrada real e virtualmente e como a informação é sempre uma ferramenta com um intuito preciso. O problema é que a informação é, pois, forjada e forjar ainda tem dois significados antagónicos...
DMZ: Friendly fire é mais cruel ainda e desnuda a violência de que são capazes os soldados e o povo. É um alerta para a perda da inocência causada, para a realidade oca da elevada moralidade local.
O julgamento do que é a verdadeira realidade de um soldado no espaço do conflito, da evidência não desculpabilizante dos erros possíveis de ocorrerem, passa depois a ser também a divisão de culpas entre quem lá está e quem manifesta o sentimento que esses soldados apenas exprimiram com a força das circunstâncias que lhes atiçaram.
Só a história de DMZ: Public works é que me parece ter surgido cedo demais na narrativa global. Os interesses económicos de uma guerra eram uma constatação urgente, mas os resultados práticos da abordagem feita não são ideais.
Este pedaço de narrativa não é tão forte como os restantes e fica enclausurado na demonstração de um argumento. Se esta história não existisse o resultado para as vidas desenhadas era o mesmo.
Claro que DMZ, sendo uma série de banda desenhada, não conseguirá atingir o público que verdadeiramente deveria.
A maioria dos que o lerem já terão consciência da realidade, já terão acesso à informação e um sentido crítico às ocorrência bélicas em que o seu país se envolve.
Nem por isso a utilização de um meio popular e tão facilmente acessível deve ser menos do que evidenciada, sobretudo nesta forma que por pouco não será, para bastantes pessoas, um incentivo à rebelião e ao terrorismo.
Não é, pois como já disse, há um carinho na construção de uma comunidade sensível em torno do ground zero, por isso para os restantes de nós, leitores com uma perspectiva distinta, com um entendimento multifacetado tanto da vida interna como da presença externa dos EUA, toda a série se mostra como uma obra de ficção de alto nível.
Se não precisamos dela para ganhar consciência, pelo menos podemos apreciá-la sem rodeios nem julgamentos imprecisos.
DMZ: On the ground (Brian Wood e Riccardo Burchielli)
Vertigo Comics
Sem indicação da edição - Junho de 2006
128 páginas
DMZ: Body of a journalist (Brian Wood e Riccardo Burchielli)
Vertigo Comics
Sem indicação da edição - Fevereiro de 2007
168 páginas
DMZ: Public works (Brian Wood e Riccardo Burchielli)
Vertigo Comics
Sem indicação da edição - Setembro de 2007
128 páginas
DMZ: Friendly fire (Brian Wood e Riccardo Burchielli)
Vertigo Comics
Sem indicação da edição - Março de 2008
128 páginas
Sem comentários:
Enviar um comentário