domingo, 31 de outubro de 2010

A parte chata

Quando li a sinopse deste livro esperei um policial em jeito de profiler com a dimensão própria de um auto-didacta que se treinou, entre livros e observação sistemática, num estudioso do carácter humano através das feições.
Já quando comecei a ler o livro a implausível justificação para o seu decorrer pareceu-me um MacGuffin que colocava o livro entre Hitchcock e Kafka.
Passando os elementos divulgativos que o autor introduz à sua profissão, parece que o livro vai enveredar por uma perseguição injustificada ao protagonista e capaz de ser confundida com obsessão pouco saudável.
O livro não joga nenhuma dessas cartadas, começa a ser meramente ilustrativo das acções de uma perseguição monótona e demasiado visível, e vai terminar sem graça nem desafio.
A narrativa está manca por ser tão directa, tão clara, tão objectiva.
Tudo o que acontece é a verdade identificada de imediato pelo protagonista. Tudo o que acontece é maldoso mas desfaz-se.
Não há nenhum dos elementos da tragédia, esta obra é como o relato do intervalo no bom funcionamento da vida do seu protagonista ou, ainda mais, esta obra é a contradição ao que disse Hitchcock: este é a parte chata da vida que não deveria ter feito parte da ficção.


















O Fisionomista (Jacinto Borges)
Chiado Editora

1ª edição - Junho de 2010
128 páginas

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