sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Com um olho no ecrã


Eis um livro que se deve ler com um olho no ecrã. Um livro que vive melhor quando o conjugamos com a visualização dos filmes de Herzog.
Mas mesmo este livro tem de ser apenas um livro e se é preciso falar dele como tal, devo dizer que as reflexões de Grazia Paganelli são excelentes leituras por si mesmas.
Diria que são, como espero que os textos que aqui escrevo sejam, pedaços independentes de literatura que nos enriquecem o pensamento e que saiem valorizados pela relação com as obras do realizador.
À falta da possibilidade de visualizar as obras lado a lado com os textos, a entrevista com Herzog entrelaça-se na reflexão, acentuando as melhores ideias desta.
Sendo verdade que a entrevista é conduzida em direcção às ideias expressas pela autora, acontece também que esta tome caminhos próprios pela voz do realizador que se encontra desafiado a reflectir sobre si próprio como não fizera até aí.
Ao longo da entrevista, Herzog faz quase um ensaio sereno sobre si próprio, sobre o seu cinema e sobre o cinema que o rodeia.
Muito honesto, fala da criação de um cinema feita por si e que se tornou numa obra. A falta de linhas orientadoras com as quais se identificasse, perseguiu temas, recusou associações e inventou formas.
Na sua entrevista explora as particularidades da obra que criou da forma que apenas ele conseguiria, sem tentar criar um mito de si próprio, mas oferencendo um ponto de entrada a um pensamento demorado sobre a própria arte do seu cinema, um pensamento que poderá depois ser enriquecido pelo retorno às teses apresentadas por Grazia Paganelli e, finalmente, por serem confrontados com os filmes de onde nasceram.


















Sinais de Vida - Werner Herzog e o Cinema (Grazia Paganelli)
Edições 70
Sem indicação da edição - Abril de 2009
270 páginas

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