O mais divertido neste livro foi encontrá-lo destacado na secção de Livros Práticos de uma livraria de Lisboa.
Tenha sido tontice ou ironia do empregado responsável - e a companhia de Pequenos Prazeres 2 e M*rdas Que o Meu Pai Diz talvez possam ajuda à inclinação para uma das hipóteses - a piada é excelente e gostaria de saber se alguém pouco atento se deixou levar pelo rótulo que tem de ser colocado nos livros para que se vendam melhor.
O livro tem, por si próprio, humor em quantidade e qualidade para que equiparar ao humor que eu vi naquela situação.
Há várias formas de humor que os autores usam intercaladamente para manter a surpresa pela qual provocam o riso.
Aproveitamento de expressões relacionadas com o "Céu" para trocadilhos vários. Desenvolvimento de provérbios para os levar ao caricato "realista". Ironização com a mais popular religião ocidental. Deriva pelos detalhes de outras mitologias cosmogónicas para picardias pontuais.
Já a abordagem a cada uma destas 100 coisas de que se lembraram é uma constante de coordenação entre o escritor e o ilustrador.
Enquanto Viton Araújo tenta dar ao texto a percepção de ser tão sério como as outras listas de recomendações que andam pelo mercado (dentro de um quadro sempre jocoso), Gustavo Nardini elabora mais uma contraditória piada com as situações que o texto não chega a descrever.
O que torna tudo ainda mais eficaz é a maneira como os autores levaram o agregado de piadas a transformar-se num livro que funciona como um bloco integral.
Tudo com os pequenos detalhes: as referências que vão surgindo nas sugestões mais avançadas para as que ficaram para trás; a inclusão de um cupões destacáveis para aulas grátis; as citações de almas famosas na contracapa; a inclusão de um agradecimento a Mauro Camargo, a alma que ditou o livro a Viton Araújo.
O humor começa com a concepção do objecto e vai até ao ponto final da sua execução. De tal maneira que diria que até poderia ter sido os autores a lançar uma estratégia de marketing que fosse a piada final e maior de toda esta edição: mandarem colocar o seu pequeno livro negro logo ao lado do 1001 Filmes para ver antes de morrer e as suas variações.
Não chegaram ainda à inventividade da recolha de momentos humorísticos sobre a morte do Petit dictionnaire a mourir de rire - outro livro negro como o seu melhor humor - que foi feito logo com a forma de um caixão. Mas se continuarem a fazer livros destes, lá chegarão.
Entretanto, não se espera que alguém venha, de facto, a morrer de tanto rir ao folhear este livro, mas se acontecesse já levava consigo o manual para o que vem depois.
Valha-nos o humor no tempo em que tudo o resto está pela hora da morte!
100 Coisas para Fazer Depois de Morrer (Viton Araujo e Gustavo Nardini)
ArtePlural
1ª edição - Outubro de 2012
208 páginas
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