domingo, 12 de maio de 2013

O mesmo recheio num embrulho diferente

Não sabia do que tratava este livro - nem procurei essa informação ao pegar-lhe - caso contrário teria sido difícil que lhe dedicasse o meu tempo. Mas, depois de lido, serve o propósito de compreender o perfil de Janet Evanovich.
Do policial de Perseguição Escaldante para a fantasia urbana de de Gula Perversa mudam os detalhes do imaginário mas a estrutura mantem-se de um livro para o outro.
Protagonistas femininas, com profissões que lhes dão enorme liberdade para se deslocarem a todas as horas do dia, em aventuras onde as perseguições têm papel essencial e das quais desviam a sua atenção quando um dos dois - ou mais - homens que surgiram a atrapalhar a sua vida está por perto.
Os detalhes que variam servem de condimento à acção. Neste caso são cupcakes e magia.
A protagonista arranca o dia na cozinha, onde além de fazer os bolos partilha o seu lado feminino com outras duas mulheres. Depois passa o resto do dia à procura de artefactos carregados com a magia de um dos Sete Pecados Mortais - basicamente, são como o anel que os Hobbits carregavam mas neste primeiro volume com a gula no lugar da fúria.
Os dois homens que surgem na sua vida estão à procura desses artefactos para fins completamente opostos, mas sabem que a sua tarefa vai passar por aquela mulher.
Um é um bad boy que ela deveria recusar de imediato. O outro é mais fiável mas igualmente atraente. Se alguma destas características ainda não estiver definida tal como aqui a resumo, estará para breve assim que a autora conseguir dar a volta a alguma nuance que tentou incluir no cenário do triângulo de atracção física.
Com Perseguição Escaldante achei que a autora conseguia conciliar o público feminino com alguma curiosidade masculina pelo género escolhido (e pelas revelações do universo feminino).
Agora sinto que o tipo de romance que a autora escreve, sobretudo sem o apoio do crime, esgota a paciência dos seus (potenciais) leitores masculinos ao fim de um único livro.
Suporia que a paciência das suas leitoras femininas, mesmo as mais fiéis, também acabaria por se esgotar, mas o largo número de volumes das suas séries logo me contradiz.
Tudo porque, não importa do que trate o livro, a autora foca-se em colocar as suas protagonistas em situações de aperto. E raramente elas parecem ser independentes o suficiente para deixarem de fora a necessidade de recorrer aos homens disponíveis.
São mulheres auto-suficientes com vontade de continuarem a ser resgatadas como "damas em apuros". Posso compreender mal a situação e esta ser a nova versão do feminismo - complacente, sobretudo - mas creio que as mulheres modernas ainda encontram um melhor modelo ficcional para a mistura de força e sensibilidade em Vivian Rutledge.
A característica que ainda ajuda o livro é o humor que a autora assume para a inconsequência das suas tramas, aqui revendo o funcionamento da Gula sobre as pessoas não como mera ânsia por comida mas como um desejo incontrolável de acumulação e consumo de coisas.
Não que haja crítica social aqui implícita, apenas uma inevitável coincidência da sociedade moderna apostar na individualidade dos prazeres que os Sete Pecados tentavam contrariar.
Resumindo, este é um livro quase decalcado do outro que li da autora mas que no lugar de balas tem magia e no lugar de sangue tem cobertura para bolos.


Gula Perversa (Janet Evanovich)
Topseller
1ª edição - Março de 2013
288 páginas

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