Ser engolido por uma baleia é ver-se no interior de um universo fechado, claustrofóbico, assustador.
Um universo onde se sobrevive mas no qual não há saída, mesmo quando há um vislumbre do que se passa lá fora, quem foi engolido não tem capacidade para abordar o que se passa.
Ser engolido pela baleia é um isolamento incompleto em que todo o exterior entra sem que possam dar algo de volta ao exterior.
Assim estão Stevie e Michael, ambos na sua velhice com o corpo e a mente a cederem, incapacitados. Ele, Michael, sobretudo, já sem voz, quase sem energias devido ao cancro.
Mas o universo não se fecha sobre eles apenas porque a idade faz ceder as suas forças, o universo foi fechado por eles próprios muito tempo antes.
Cada um viveu a sua história separadamente, percorrendo os caminhos possíveis do ponto em que estavam juntos e tiveram de se separar até ao momento em que já não se podiam unir mas estavam de novo ligados sem alternativa.
Quando as suas vidas se tocaram, decidiram ainda assim continuar sozinhos.
No fundo, deixaram-se engolir pela baleia do seu medo que foi, também, um cuidado com o outro.
O seu medo maior não foi o de se ferirem uns aos outros, foi de permitirem um ao outro redimirem-se mutuamente.
Como se o carinho e o perdão que o outro teria por eles fosse a condenação a uma dor permanente de quem tinha sido o ser humano melhor e o amante mais sincero.
Ambos acharam merecer ser encerrados naquele silêncio culpado sem fuga e ambos evitaram as poucas hipóteses de fuga que poderiam ter existido.
Bertrand Editora
Sem indicação da edição - Setembro de 2010
224 páginas
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