sábado, 25 de dezembro de 2010

Doces Freaks

Os Freaks de Tod Browning querem uma vida normal , um local para viver, uma aldeia para si próprios.
Não todos os Freaks, apenas aqueles que estão acabados ou a acabar-se, os Freaks que não têm mais espaço no circo, que não têm mais um círculo que os defenda.
Verdade seja dita, o circo desmoronou-se. Os irmãos Mantecón separaram-se e, com eles, o circo.
Tenda para um lado, animais para o outro. E os artistas encostados a uma parede como miúdos a serem seleccionados para uma equipa de futebol.
Os que ficam para últimos acabam com Don Alejo a caminho de uma aldeia que, afinal, se tornou fantasma.
Os Freaks ficam tão bem numa aldeia fantasma só deles, pensam em construir uma sociedade própria para o futuro, mas começam a falhar logo no início ao escolherem as profissões essenciais.
Depois decorre o que decorre em todos os grupos, mas em ponto acelerado quando falha a água, falham todas as capacidades, falham os corpos e falham os afectos.
Tudo se corrompe e degenera mais depressa do que seria normal e os Freaks debitam memórias e traumas, constroem uma união de dores e desastres.
São todos farsantes, vivendo vidas inventadas sobre vidas inventadas. Pessoas tornadas artistas bizarros tornados habitantes vulgares de uma aldeia inexistente.
São deliciosas personagens, mas muito tristes. Personagens a quem desejamos ajudar, com quem temos desejo de viver algum tempo, sendo eles expressões mais intensas e incomuns da noss própria existência.
Os Freaks são os melhores de entre os personagens, os mais interessantes de entre nós.


















Santa Maria do Circo (David Toscana)
Oficina do Livro
1ª edição - Abril de 2010
304 páginas

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