quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Duas vidas numa noite

Uma noite é o suficiente para contar toda uma vida como é suficiente para começar toda uma vida.
Tristeza e alegria na mesma medida. Que um homem possa ver um futuro enquanto o outro confessa um passsado.
Quem vive para ver a sua vida reduzida a uma conversa de uma única noite não pode deixar de se sentir desanimado com isso...
Ainda que a sua história seja de um amor sem paralelo e da maior coragem capaz de afrontar o terror Nazi, revela-se a história breve de uma vida, afinal de contas.
Por isso é contada, para se tentar que ela persista para lá do fim mais do que anunciado que apenas quem ouve não se apercebe por estar desejoso de receber o seu prémio.
Quem vive na expectativa do desaparecimento encontra uma nova vida a um bom preço, a de deixar que uma outra vida se esgote em palavras.
Tudo isto por conta de um passaporte que guarda a salvação, uma autorização de partida para um país seguro.
Um passaporte que transformou um homem em Schwarz até que ele já não precisa mais de identidade porque a sua vida de luta e de amor terminou. Um passaporte que transformará outro homem em Schwarz, um homem que já só pensa em partir e existir de novo.
A identidade, passada de mão em mão, poderá ser uma benção mas no final aliena um homem de si mesmo. O passaporte, descobrimos no fim, parece ser uma maldição. Ou a maldição está para lá da identidade e a desgraça é o destino dos dois homens que se encontram em Lisboa?
A única pena que fica do romance é que ele não siga esse destino dos homens que, sucessivamente, se transformam em Schwarz, como se as vidas pudessem ser guiadas pelo que foi um homem que mal conhecem mas que lhes dá nome.


















Uma noite em Lisboa (Erich Maria Remarque)
Camões e Companhia
1ª edição - Julho de 2010
224 páginas

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