quarta-feira, 3 de julho de 2013

A família que se desfaz por dentro

Misto de thriller e novela, os segredos da família explorados a pouco e pouco num cenário de fundo que permite continuar a história como uma série que se move tanto para o futuro como para o passado.
Iniciado com um assassínio, convence o leitor a acompanhar a família por aquilo que dela se revela de mais perverso ao ponto de ninguém confiar que os do seu próprio sangue sejam inocentes.
Lançando bases para uma quantidade incontabilizável de mistérios - já ocorridos ou por ocorrer - deixando tudo em suspenso para uma nova investigação de assassinato no livro seguinte (muito embora a partir daí o título-chamariz deixe de fazer sentido).
Por isso é que o ponto de vista inabitual da história é tão precioso para o seu objectivo, permitindo o acompanhamento da investigação a par de uma visão privilegiada do que se passa no seio da família. Mesmo se a exploração da narração na primeira pessoa - que parece ser uma característica omnipresente nas obras de Patterson mas pode ser insuficiente para o próximo volume - leva ao máximo a vontade do leitor em dar crédito ao que se passa no livro.
A exploração de todas as angústias adolescentes num cenário titilante - que inclui romances com desaprovação parental, exigência académica desmesurada e rebeldia tardia - assume um protagonismo tão grande quanto o thriller ele próprio, pois esse dá a escala unitária ao livro e ela dá a escala global da série.
Mas se as angústias adolescentes são as vulgares para qualquer pessoa nessa fase de crescimento, é pelo extremar da forma como ocorrem e das consequências que têm que Patterson e Paetro vão conseguir controlar as ocorrências de crimes dentro de um núcleo tão restrito de personagens.
A adição de um ambiente corporativo, potencialmente de especulação científica, que actua sobre as capacidades físicas, psicológicas e sociais dos jovens ajuda a transpôr a barreira da idade da protagonista. Visto que esse ambiente corporativo é pertença dos adultos da família - que têm papéis ainda mais perversos na vida dos jovens - o lado de crítica aos limites da parentalidade e da sociedade é um factor de maturidade para a história.
Nestas circunstâncias, a protagonista (e irmãos) criam vários antagonistas para si, numa clara disposição das peças num combate entre jovens e adultos.
Todos acabam colocados em causa por esse processo, não havendo classificações óbvias de "justos" e "vilões". O que têm em comum é o facto de nenhum deles ser agradável mas terem qualidades e defeitos que, a cada momento, são motivos de simpatia ou desprezo. Mesmo os pais excessivamente severos têm um momento de humanização.
Isso exige a abertura da caracterização do máximo de personagens com o mínimo de elementos, algo que está bem dominado ao longo do volume.
Menos bem dominados são os tempos da narrativa, que adia a resolução do assassínio até que não possa deixar de ser significativo em termos dramáticos mas, igualmente, simplista dentro do thriller.
Ou o facto do livro ser feito numa escrita directamente dirigida ao público - um calculismo que faz vacilar os leitores - em vez de uma qualquer forma diarística.
Ou, e sobretudo, alguma debilidade para cavalgar a dúvida interna à família - e, até, a dúvida consigo própria - considerando a narrativa pessoal.
Entre aspectos positivos e negativos, são os desejos finais da protagonista em se tornar detective com a incerteza sobre se ela não se revelará violenta, que deixam uma avaliação final de crença maior nas potencialidade da série do que nos seus defeitos. 


Confissões de uma Suspeita de Assassínio (James Patterson, Maxine Paetro)
TopSeller
1ª edição - Abril de 2013
288 páginas

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