sábado, 6 de julho de 2013

O investigador privado. E a sua equipa?

De entre os títulos de James Patterson que a Topseller tem vindo a publicar, Private - Agência Internacional de Investigação parece-me o mais satisfatório.
Parte disso tem a ver com a criação de um detective mais próximo dos modelos clássicos deste género de personagem colocado na liderança de um policial.
Jack Morgan, um detective "à antiga", que quer dizer que ele tem uma conduta construída à medida que as coisas acontecem e nem sempre coerente.
Com uma moral balançando entre o que cada caso representa para ele - justiça ou vingança, um simples pagamento ao fim do mês ou um grupo de pessoas com quem não quer nenhum contacto - ele rege-se segundo as alianças que tem a cada momento, o que o deixa numa relação difícil com todos mas, sobretudo, a polícia como já se foi vendo neste primeiro livro.
A personagem afasta-se ainda mais do comportamento a roçar o super-heróico de Alex Cross, até porque tem à sua volta um séquito de colaboradores que assumem funções igualmente importantes.
A equipa em torno da personagem central permite trazer lógica ao que é uma agência de investigação no tempo actual que já não pode depender de um homem só indo de porta em porta.
Ainda mais do que isso, a equipa permite desmultiplicar os esforços da agência, cobrindo vários casos com várias causas e efeitos distintos. 
Claro que, por outro lado, o grupo permite criar uma dinâmica de relações amorosas e dramáticas (influência de Maxine Paetro, creio) que traz de volta o traço novelesco que mencionava a propósito de Confissões de uma Suspeita de Assassínio.
Isto permitirá segurar os leitores mesmo quando a imaginação de Patterson comece a falhar em originalidade, como já se nota aqui quando um dos três casos do livro - o dos assassinos em série, o caso menos lógico na dinâmica de uma agência de investigação - tem vários elementos a que já faltam novidade.
Será necessário que os autores insistam na caracterização de todos os investigadores como já têm feito com Jack Morgan que ainda não é uma personagem vincada e de corpo inteiro mas que já tem vários traços cativantes.
Além da sua moral que o molda ao trabalho, tem também traços pessoais fundados na realidade: o facto de ele ler Sedaris, como se este fosse um porto de abrigo para as suas más decisões através do olhar crítico sobre o núcleo familiar sempre disfuncional.
Devo neste ponto voltar a frisar que o papel dele é igualado por cada um dos seus colaboradores, até porque isso acrescenta à falha maior do livro, que vem da narração.
Já se viu que Patterson trabalha invariavelmente com a narração na 1ª pessoa, mas com a necessidade de ir trocando de personagens (raramente juntas) leva a mudanças para a narração na 3ª pessoa.
Essa variação é, creio que transversalmente, vista com maus olhos e deveria ser evitada, até porque não consegue ser feita com uma continuidade que disfarce o intercalar das vozes entre si.
Infelizmente tenho de terminar com um julgamento da tradução do livro que, na sua maioria, é eficaz, legível e fiel ao que será o original do texto.
No entanto, a fidelidade ao texto original torna-se um problema quando se começam a verificar traduções acríticas dos vocábulos em inglês.
Tratar como "futebol" o desporto americano ("football") ou chamar "caneta USB" Ao dispositivo informático ("USB Pen") são questões de pormenor mais ou menos corrigíveis automaticamente pelos próprios leitores.
Já ter uma expressão absurda como "sem gastar um níquel" em que o elemento químico se substitui à moeda norte-americana ("nickel") ressoa com maior gravidade perante melhores soluções, como a idiomática do nosso país - sem gastar um tostão - ou a conciliadora das unidades monetárias dos dois lados do Atlântico - sem gastar um cêntimo.
Este novo estilo de escrita - veloz e coloquial, mais do que detalhada e trabalhada - em que a Topseller aposta em força no nosso mercado (onde surgiu esporadica e não sequencialmente) vai exigir que os tradutores sejam adaptáveis e sem um estilo fixo (como acontecia com Alex Cross, malgrado a deficiente intervenção do revisor).
Ou, então, que se forme um grupo de tradutores mais jovens, formados em sociedade e coloquialidade americana pelo cinema (sobretudo), e com a desenvoltura para saber, por exemplo, onde não traduzir.


Private - Agência Internacional de Investigação (James Patterson, Maxine Paetro)
TopSeller
1ª edição - Abril de 2013
384 páginas

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