segunda-feira, 8 de julho de 2013

Onde está a piada?

Christopher Moore teve um período fértil no mercado nacional para desaparecer por completo logo de seguida (apesar do muito que havia ainda para traduzir).
Tendo lido dois dos seus livros percebo facilmente esse efeito, de motivação imediata para continuar embrenhado no seu humor mas cuja eficácia (e memória) se desvanece com o tempo que passa.
Isso e, claro, um esquecimento do autor assumido conscientemente perante escritores mais relevantes que há que ler sem falta.
A possibilidade de voltar à escrita de Moore através de uma novela gráfica pareceu-me boa.
O autor nunca foi muito dado à descrição mas que usava a acção para criar situações adequadas às suas piadas, que não poucas vezes dependiam de personagens estabelecidas em poucos traços.
Portanto adicionar desenhos a esta forma de escrever seria estabelecer um contexto e acelerar ainda mais os momentos certos para o humor.
Aqui ele montou um grupo muito ao estilo do que há pouco tempo se viu em Zombieland, mas a sua paródia ao género dos sobreviventes em cenário pós-apocalíptico não acerta com o humor tantas vezes quanto se esperava.
A história rende-se depois à norma, com inclusão de cenas de acção, de romance e de desenlaces atempados de personagens que se sacrificam ou sobrevivem.
Mesmo com o final não tão feliz assim - o último painel não é a versão esperada do casal olhando o pôr-do-sol - parece que a convencionalidade narrativa foi levada longe demais para a punchline irónica assim executada.
Tudo isto seria menos importante se, como nos romances de Moore, o background fosse insignificante para a fantasia (Ficção Científica neste caso) e só interessassem as personagens, mesmo quando estas são uma parte significativa dessa própria fantasia.
Neste caso há uma separação clara entre as personagens em acção e a ocorrência dos fenómenos extraordinários, reagindo as primeiras aos segundos.
Isto faz com que existam várias boas ideias para conseguir conjugar Extra-Terrestres e dragões numa única história, mas que haja muito menos ideias de humor.
Como a resolução demora demasiado, seria mesmo preferível que não existisse de todo, deixando as personagens à deriva (e não apenas sob a ameaça da deriva) no acaso de um mundo devastado.
Christopher Moore estaria mais confortável e com mais material de inspiração se escrevesse sobre a repopulação do planeta (quem sabe se com uns ETs esquecidos à mistura) e não esta buddy story de acção.
Este é um bom esboço para um blockbuster (se aceitarmos a maneira como eles são feitos por estes dias) mas é uma má história de Moore em comparação com aquelas que conheço.
Provavelmente a melhor piada que Christopher Moore ainda conseguirá com esta novela gráfica é que ela seja adaptada ao cinema... depois de ter sido um argumento rejeitado que viu a luz do dia nesta versão impressa.
Terminarei falando sobre o desenho de forma breve, visto que é um elemento que não ajuda em nada. Há páginas feitas com muito cuidado - maioritariamente cenas de página inteira com um papel chamativo - mas a maioria é mal desenhada e pouco ousada na composição - além de levarem com uma má colorização digital por cima -, tornando a leitura ainda mais aborrecida do que já era sem humor.


The Griff (Christopher Moore, Ian Corson, Jennyson Rosero)
HarperCollins Publishers
1ª edição - 2011
160 páginas

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