Tenho um colega colombiano que ao ver-me com A Virgem dos Sicários se apressou a avisar que as "coisas já não são assim", que o livro se referia "aos tempos mais fortes do narcotráfico".
Percebi que ele não tinha lido o livro, pois o livro nada tem a ver com esse flagelo.
O livro fala, isso sim, do apaziguamento da solidão entre aqueles que estão a perder um país e aqueles que o vêm perdendo.
Aquele que relata a história só consegue amaldiçoar o país que já não tem respeito a ninguém, mas vai ainda amando os jovens assassinos contratados que estão condenados ao desaparecimento.Percebi que ele não tinha lido o livro, pois o livro nada tem a ver com esse flagelo.
O livro fala, isso sim, do apaziguamento da solidão entre aqueles que estão a perder um país e aqueles que o vêm perdendo.
Os sicários com que ele se faz acompanhar gozam o que podem nesses seus últimos tempos, apenas semi-conscientes do que os espera. Aproveitam aquilo que o narrador tem para oferecer a outro alguém - e nunca a si mesmo, cujo único luxo é o fato negro que guarda para que nele seja enterrado - e a final consciência do amor.
Os sicários retribuem como sabem e podem, com a vingança das ofensas que fazem ao homem que os acolheu.
Oferecem-lhe as mortes que ele não pediu mas imaginou até que, finalmente, ele se habitua a correr com o poder de vida e de morte - mas quase sempre de morte - como seu.
Tornam-se dois vingadores cruzando a vida, duros juízes para quem todo o crime, do verdadeiro ao merante feito da existência dos que não lhes agradam, se penaliza da mesma forma: com uma bala entre os olhos, precisamente onde se dão os sacramentos.
Este narrador que vai contando tanto é, afinal, ele próprio a Virgem dos seus sicários. Não os pode salvar da morte, mas dá-lhes a última benção antes que se vão.
Neste relato assombrado por uma melancolia raivosa, a escrita de Fernando Vallejo é uma torrente a cuja força só escapamos quando termina o livro.
Mas uma torrente que nos vai deixando imagens fortíssimas na sua margem, como a do rapaz que se vai confessar de se ter deitado com a namorada sem estarem casados, mas que não confessa os mortos que deixa no caminho, pois esses são para as consciências de quem os encomenda.
Os sicários retribuem como sabem e podem, com a vingança das ofensas que fazem ao homem que os acolheu.
Oferecem-lhe as mortes que ele não pediu mas imaginou até que, finalmente, ele se habitua a correr com o poder de vida e de morte - mas quase sempre de morte - como seu.
Tornam-se dois vingadores cruzando a vida, duros juízes para quem todo o crime, do verdadeiro ao merante feito da existência dos que não lhes agradam, se penaliza da mesma forma: com uma bala entre os olhos, precisamente onde se dão os sacramentos.
Este narrador que vai contando tanto é, afinal, ele próprio a Virgem dos seus sicários. Não os pode salvar da morte, mas dá-lhes a última benção antes que se vão.
Neste relato assombrado por uma melancolia raivosa, a escrita de Fernando Vallejo é uma torrente a cuja força só escapamos quando termina o livro.
Mas uma torrente que nos vai deixando imagens fortíssimas na sua margem, como a do rapaz que se vai confessar de se ter deitado com a namorada sem estarem casados, mas que não confessa os mortos que deixa no caminho, pois esses são para as consciências de quem os encomenda.
A Virgem dos Sicários (Fernando Vallejo)
Editorial Teorema
Sem indicação da edição - Abril de 2001
156 páginas
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