quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mau génio

Há um relato dentro do relato e com eles vêm vidas atrás de vidas. Em comum trazem aquele gosto cultivado para a tragédia.
Porque apenas a tragédia - amorosa, sobretudo - pode dar aquela dimensão profunda às vidas que lhes serve para a criação. Mesmo se essa criação apenas pode ser feita na própria vida, que enchem da tristeza que sonham sem ainda a conhecerem.
Não há tragédia senão aquela para a qual Toma e Ioan se encaminham, persuadidos por si mesmos de que já as suas vidas a ela estavam destinadas. Leram o seu Destino no seu pessimismo e assim o tornaram real.
Por isso as suas vidas são sempre feitas de altos e baixos, com os momentos altos a parecerem motivos para tombarem e nunca o contrário.
Do heroicismo à tolice, do amor à desesperança e da partilha à derota. Parecem voluntariar-se para se erguerem porque, caso contrário, não terão como se atirarem abaixo.
Mesmo o afecto que Toma sente por Ioan só o faz caminhar para o combate, para a frente de batalha onde o infortúnio é mais provável.
Os afectos, admiráveis, são as fontes dos actos mais inconsequentes e tenebrosos. Estes são homens que se enchem com o... vazio!
Ainda que O Génio Vazio seja "apenas" um fragmento de romance, acaba como se fosse no ponto correcto, com a promessa da partida para mais altos e baixos numa vida que está (agora) escrita mas ainda por concretizar.
Todo o livro é, afinal, o grande argumento da tese que lá vem escrita, pela defesa da independência da Roménia e pela defesa do patriotismo, que devem manter-se vivos ainda que essas ideias sejam, naquele país e naquela época, belas mas insubstanciais.
Um país é feito de muitas vidas, mas as vidas parecem feitas de um só génio - um só feitio, uma só ideia - que os encaminha para onde não devem seguir.
O convencimento é a grande tragédia destes seres e do que era então o seu país.


O Génio Vazio (Mihai Eminescu)
Alfabeto
1ª edição - Janeiro de 2011
168 páginas

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