segunda-feira, 25 de julho de 2011

Humanidade perdida, Humanidade reencontrada

Estes seres são os pobres, os desamparados que lidam com o dinheiro numa base diária que lhes permita subsistir até ao momento seguinte.
Seres que já não têm aquele mínimo das condições que julgamos indispensáveis para viver.
São seres marginais e marginalizados, que vivem à base de álcool e de da bondade aproveitadora dos que são como eles mas que se acham um pouco mais espertos.
Estão desesperados por qualquer oportunidade à qual se agarram rapidamente e sem pesarem as consequências.
Na verdades estes são os seres que parecem já não serem humanos mas que o negam no seu quotidiano.
Muito sós, inconsoláveis com a sua própria existência, conseguem reunir-se numa comunidade falhada mas melhor e mais duradoura do que as comunidades abastadas que se unem pelas características comuns mas se dividem pela ganância individual.
Esta comunidade de seres aparentemente acabados move-se para um ténue objectivo comum, o da sobrevivência.
Celebram sem reservas e até que se esgotem pequenas benesses que o acaso ainda lhes traga sabendo que estão condenados às dificuldades e não há como sonhar com um futuro a partir de momentos mais felizes.
Afundam-se em conjunto e com prazer nas bebedeiras que os deixem dormentes para a realidade alheia que os reflecte bem demais.
Vivem, ainda, como quando a Humanidade merecia o seu nome, valendo-se da disponibilidade gratuita (quanto muito, barata) dos poucos meios que possuem quando estão em conjunto.
Na verdade, os seres que outrora foram humanos são os restantes, aqueles que desprezam, e até atacam, o miolo social pobre que criaram à conta das suas próprias acções!
Esses seres, confortavelmente instalados numa posição financeira inabalável, esqueceram-se da caridade humana que devia tecer a sociedade.
Esqueceram-se dos sentimentos que os homens devem partilhar por pertencerem a uma raça de seres semelhantes. Raça em que se um perde a sua humanidade, todos a acabarão por perder.
O ponto mais fraco do tecido social é o que dá a medida do seu total. Mesmo se depois a redime pela maneira como resiste contra todas as contrariedades.
É importante reaprender a lição que vem da Rússia de há cem anos, que se repete para o Portugal de hoje e que se manifestará de novo daqui por cem anos, quem sabe se nessa altura não será por toda a parte...


Seres que outrora foram humanos (Máximo Gorki)
Arbor Litterae
1ª edição - Março de 2010
140 páginas

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