terça-feira, 5 de julho de 2011

Isto é que são piratas!

Sei que A Ilha do Tesouro é um livro muito recomendado para os jovens leitores, mas eu nunca o tinha lido.
Robert Louis Stevenson ocupou a minha juventude com O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde e O Clube dos Suicidas.
Chamem-lhe afinidades electivas ou curiosidade mórbida, mas o primeiro tinha uma capa deliciosa de Jorge Colombo (que só viria a saber quem era anos mais tarde) e o segundo tinha uma capa prometedora e até mesmo tentadora (felizmente nunca cheguei a tentar trespassar nenhum Ás de Espadas com uma faca).
Já agora acrescento que eram, respectivamente, uma edição Relógio d'Água e Vega e que, ao miúdo que eu era, não agradava nada o (outrora) aborrecido estudo de Nabokov sobre o O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde.
Não é que não conheça bem esta história, fosse por a ver na versão realizada pela Disney ou na versão desenhada por Fernando Bento (que depois, em boa hora, lá se lembrou de regressar) - e mais outras tantas versões descobertas com mais idade, até mesmo a passada no futuro, também da Disney e mais interessante do que a fazem parecer.

Tenho de admitir que mesmo essas aproximações não preparam para este livro que é extraordinário e capaz de conquistar até quem preferia que as suas aventuras lhe fossem servidas mais negras.
A aventura é servida em doses intensas e, diria, celebratórias. Se cada pequeno progresso se aproxima da implausabilidade, mais ainda nos fala das grandes possibilidades de conquista que há para quem corre um pequeno risco.
A escrita tem o dom de fazer o que tantos anos depois é a norma do género, identificar-nos com os protagonistas e envolver-nos na acção. Sendo astuta na forma como consegue mudar o ponto de vista para nos colocar em todos os pontos fulcrais da acção, independentemente de quem os viva. Mesmo se é na pele de Jim que nos sentimos melhor, tão enérgicos como aquele miúdo que se arrisca mas que vence.
E, falando de Jim, acima de tudo estão as personagens, deliciosas na sua descrição e reais na sua acção. Jim é daqueles protagonistas miúdos que fazem crescer qualquer leitor mas é Long John Silver que nunca leitor algum deixará de lado.
Como me apetece ser modernaço, vou já dizendo que aqueles que tanto admiram os piratazinhos simpáticos e divertidos que vêm das Caraíbas a cada nova sequela, nunca souberam o que é um pirata astuto e manipulador, de uma perna só e com verdadeiro gosto por rum. Mas também um pirata com um fundo digno de afecto e mais sério do que os seus companheiros.
Felizmente já não sou um desses!

Já agora, uma palavra para a introdução de Miguel Sousa Tavares. A defesa da memorabilidade das personagens de toda a grande literatura, mas acima de tudo deste livro, é legítima (e exacta).
Já aproveitar o texto para, através dessa defesa, lançar mais um ataque na sua luta local pelo que é a "verdadeira literatura" não o é.
Sobretudo porque é um ataque a um conjunto abstracto de escritores que, se formos capazes de extrapolar os seus nome, muitas vezes nem sequer se interessam pelo que ele escreve. E isso é triste de encarar mais do que irritante de ler.



A Ilha do Tesouro (Robert Louis Stevenson)
Clube do Autor
1ª edição - Novembro de 2010
268 páginas

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