quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Transformação

A falha de que aqui se fala é aquela que estas personagens apenas compreenderão depois de tombarem na falha real da pedreira.
É a falha que impede que eles vejam que não se possa retornar a um passado que não era ideal mas que de certa forma os contentava.
Que é impossível perpetuar a felicidade que vivia de uma suposta inocência, tal como é impossível fazer a catárse daquilo de que se afastaram há muito.
A falha que corta todas as possibilidades deste grupo se voltar a relacionar com a terra que abandonaram.
A falha que atravessa, afinal, um país, falsamente púdico, falsamente corajoso, falsamente respeitador, falsamente brando, falsamente tradicional.
Um país que se revela, depois, na sua verdadeira natureza, animalesco, paranóico, louco, violento.
Um país que podemos ainda ler como o próprio mundo, como a generalidade da humanidade.
A falha destas personagens está na sua necessidade de tocar a loucura ou o desespero para conseguirem reformar a percepção que eles e os que os rodeiam fazem de si próprios.
A falha está na incapacidade de se olharem e assim se transformarem, a menos que estejam ameaçados para lá dos limites do saudável.
Estiveram sempre demasiado longes de quaisquer verdadeiras exigências para terem de revelar os seus reais instintos. Até à falha, claro!


















A Falha (Luís Carmelo)
Publicações Europa-América
Sem indicação da edição - Dezembro de 2009
160 páginas

Sem comentários:

Enviar um comentário