quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"Onde não há imaginação não há horror"

O título da crítica de hoje é uma citação de Sherlock Holmes retirada de A Study in Scarlet, aproveitando o revisionismo e a memória que por estes dias o personagem de Sir Conan Doyle tem vindo a merecer.
A frase não poderia calhar melhor para falar de O Terror, um conjunto de três contos onde o assombroso fantástico se insinua na realidade, não só porque Arthur Machen é um autor que influenciou o criador de Holmes - e cito a contracapa do livro, não arriscando qualquer pressuposto que não tenho autoridade para fazer, ainda que no conto A Mão Vermelha isso seja fácil de perceber - mas acima de tudo porque é uma explicação cabal do que aqui se lê.
O medo que grassa nestes contos não nasce da essência dos actos que ocorrem, mortes brutais e inexplicáveis, mas de toda a espécie de especulação que estes originam pelo seu mistério.
O medo está nas teorias segredadas, cada uma mais implausível e feroz que a anterior.
O medo induz a imaginação que induz um medo ainda maior. As pessoas colocam-se a si próprias nesse estado de receio, são as suas maiores atormentadoras.
O Terror nasce onde há imaginação, pois cada nova teoria induz mais e mais a certeza de uma causa que é vontade do Destino e, por isso, incontrolável.
Ter medo de algo que é tão extravagante que não pode ser imputado aos que o receiam é, ao menos, mais fácil de aceitar do que algo que esteve sempre perante os seus olhos e ninguém cuidou de avaliar seriamente.
Porque, verdadeiramente, o medo nasce da teoria inominada, da teoria que é plausível e que, por isso, todas as mentes rejeitam.
Como escreve Machen, perante a dúvida, acabar-se-á por "escolher qualquer explicação em detrimento da mais óbvia, dado que o óbvio seria demasiado chocante".
Se se aceitasse a explicação mais óbvia, então não seria terror mas culpa o que se sentiria. E é mais difícil de viver com a culpa do que com tudo o o que a imaginação consiga produzir.
O Terror de Machen é, provavelmente, um desafio cada vez maior para os leitores modernos, mais informados e mais seguros dos seus próprios conhecimento e pensamento lógico, também por isso mais cépticos e mais facilmente aterrados pela explicação óbvia.
Vale mais, então, deixarmo-nos levar pela imaginação para melhor desfrutar desta obra.





















O Terror (Arthur Machen)
Saída de Emergência
1ª edição - Outubro de 2009
176 páginas

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