quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Uma personagem a sós

http://www.uwo.ca/french/films/Film%20Images%202007-2008/La_pianiste_2.jpg
Isabelle Huppert como Erika Kohut

Senti-me atraído para A Pianista por ter visto e admirado o filme que Michael Haneke fez dele.
Por Michael Haneke ter arrancado a Isabelle Huppert uma interpretação tão surpreendente quanto intensa, o ressurgimento do título A Pianista na minha mente foi como um foco apontado à leitura.
Há em A Pianista uma personagem extraordinária, Erika Kohut, que não era afinal apenas fruto de uma inspirada actriz.
Ela é a essência de subjugação voluntária para que se lhe activem os sentidos, para que se sinta viva por entre a dormência da sua vida, embora nunca liberta da rendição a que se acostumou ao morar com a mãe.
Mas uma personagem assim, mesmo que fique na memória, não consegue verdadeiramente viver sozinha.
E com isto quero dizer que a escrita de Elfriede Jelinek teria de a suportar, teria de a espicaçar, teria de a acariciar.
Não o faz. A escrita de Elfriede Jelinek tem a eloquência fria de um relatório, um atestado analítico à psique de uma personagem.
Uma frieza que assenta mal, que obriga a uma disputa entre a paciência e o prazer do leitor.
Elfriede Jelinek parece capaz de analisar de forma distante a sua personagem, mas com isso afasta também os seus leitores.
Há aqui uma personagem radical mas que precisava de um outro tratamento para que a acompanhássemos com mais intensidade.


















A Pianista (Elfriede Jelinek)
Edições Asa
2ª Edição - Outubro de 2004
336páginas

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