Os homens quando se vêem a nú diante de si mesmos sentem o maior dos repúdios e a maior das vontades de destruirem essa consciência.
Mas sendo impraticável - impossível não, mas certamente difícil de o fazer a toda uma aldeia - destruirem-se a si mesmos, destroem aquilo que os confronta consigo próprios, sejam meros desenhos ou um estrangeiro que olha para a aldeia de uma nova forma.
Um homem justo é o espelho em que a monstruosidade dos restantes se reflecte e, conscientes de si mesmos, estes homens sentem uma raiva perante de si que não conseguem tolerar.
A raiva e o medo são dois das mais fortes motivações do homem, a primeira servindo geralmente para dominar a segunda. Já quando as duas se combinam, com os homens enraivecidos e assustados consigo mesmos, o resultado é muito mais violento, capaz de os levar ainda mais para lá da brutalidade desumana que já haviam revelado.
Os homens não pretendem senão apagar a memória de si mesmos, dos seus actos, dos seus pecados, da sua ignomínia.
Brodeck escreve contra o esquecimento, contra o silenciar da realidade, contra o apagar do passado.
Mas é ele que carrega esse fardo da memória, ele que tem de penitenciar toda a sua aldeia.
Ele e a família que o acompanha, como a mulher que carrega no ventre o texto que Brodeck escreve para si mesmo, o mesmo ventre de onde nasceu a filha que ele adora, a filha de mais um crime que os homens da aldeia cometeram.
Brodeck será o último homem justo, que quer apenas que todos saibam que é inocente, que não procura a vingança que facilmente poderia ter.
Ele sobreviveu a tudo para reencontrar a sua mulher, embora isso se tenha relevado impossível, porque nenhum homem justo é recompensado neste mundo. Pelo contrário, é castigado vezes e vezes sem conta.
Brodeck escreve o relatório sabendo que com ele pretendem os restantes limpar as suas consciência. Brodeck escreve o seu próprio texto sabendo que ele não pode permitir que as consciências se percam assim.
Não há mais espaço para ele, homem justo, naquela aldeia ou sequer neste mundo. Mas se ele se submete não se rende.
Submeteu-se a ser um cão mas sobreviveu. Submeteu-se a branquear o que os outros haviam feito mas revelou as suas verdadeiras feições.
Terá de bastar que seja apenas ele a sabê-lo, mas Brodeck não se deixou conspurcar, ele escreveu como hipótese de permanecer o homem que pretende, mesmo que nunca consiga voltar a ser o homem que fora.
Ele escreveu para fazer sobreviver a sua humanidade, para nos revelar até que ponto estamos dispostos a perder a nossa.
Estamos mais do que confrontados com nós próprios quando nos vemos no espelho que é Brodeck, reflexos dos homens daquela aldeia.
Mas sendo impraticável - impossível não, mas certamente difícil de o fazer a toda uma aldeia - destruirem-se a si mesmos, destroem aquilo que os confronta consigo próprios, sejam meros desenhos ou um estrangeiro que olha para a aldeia de uma nova forma.
Um homem justo é o espelho em que a monstruosidade dos restantes se reflecte e, conscientes de si mesmos, estes homens sentem uma raiva perante de si que não conseguem tolerar.
A raiva e o medo são dois das mais fortes motivações do homem, a primeira servindo geralmente para dominar a segunda. Já quando as duas se combinam, com os homens enraivecidos e assustados consigo mesmos, o resultado é muito mais violento, capaz de os levar ainda mais para lá da brutalidade desumana que já haviam revelado.
Os homens não pretendem senão apagar a memória de si mesmos, dos seus actos, dos seus pecados, da sua ignomínia.
Brodeck escreve contra o esquecimento, contra o silenciar da realidade, contra o apagar do passado.
Mas é ele que carrega esse fardo da memória, ele que tem de penitenciar toda a sua aldeia.
Ele e a família que o acompanha, como a mulher que carrega no ventre o texto que Brodeck escreve para si mesmo, o mesmo ventre de onde nasceu a filha que ele adora, a filha de mais um crime que os homens da aldeia cometeram.
Brodeck será o último homem justo, que quer apenas que todos saibam que é inocente, que não procura a vingança que facilmente poderia ter.
Ele sobreviveu a tudo para reencontrar a sua mulher, embora isso se tenha relevado impossível, porque nenhum homem justo é recompensado neste mundo. Pelo contrário, é castigado vezes e vezes sem conta.
Brodeck escreve o relatório sabendo que com ele pretendem os restantes limpar as suas consciência. Brodeck escreve o seu próprio texto sabendo que ele não pode permitir que as consciências se percam assim.
Não há mais espaço para ele, homem justo, naquela aldeia ou sequer neste mundo. Mas se ele se submete não se rende.
Submeteu-se a ser um cão mas sobreviveu. Submeteu-se a branquear o que os outros haviam feito mas revelou as suas verdadeiras feições.
Terá de bastar que seja apenas ele a sabê-lo, mas Brodeck não se deixou conspurcar, ele escreveu como hipótese de permanecer o homem que pretende, mesmo que nunca consiga voltar a ser o homem que fora.
Ele escreveu para fazer sobreviver a sua humanidade, para nos revelar até que ponto estamos dispostos a perder a nossa.
Estamos mais do que confrontados com nós próprios quando nos vemos no espelho que é Brodeck, reflexos dos homens daquela aldeia.
O Relatório de Brodeck (Philippe Claudel)
Edições Asa
1ª Edição - Setembro de 2009
256 páginas
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