sábado, 12 de setembro de 2015

É para rever



Depois de lidos quatro livros da Porto Editora de seguida tenho que escrever um desabafo que tem tanto de lamento como de acusação.
Não houve nenhum destes quatro livros que não apresentasse falhas notórias de transcrição final que, na sua maioria, eram também graves.
Aquelas que se ignoravam de forma relativamente fácil eram as de permanência de algumas palavras numa frase cuja tradução se transformou. As outras eram impossíveis de o conseguir.
A evolução da falha anterior significou a aparição de frases já ilegíveis de tal forma duas (quem sabe se mais...) traduções competiam por existir em simultâneo.
Houve depois parágrafos que terminavam a meio, em vez de um ponto final vinham dois pontos e a expectativa de algo que ficou por imprimir.
Mais óbvio e ainda assim por eliminar era a duplicação de parágrafos, consecutivamente impressos sem que ninguém desse por eles.
Olhando para a ficha dos quatro livros um ponto em comum: nenhuma referência a um revisor.
Se os houve, não estão assinalados, ficando toda a responsabilidade imputada aos tradutores. Se não os houve o caso torna-se grave.
Parece-me que se trata do segundo caso, visto que as outras casas do grupo editorial indicam o nome dos revisores.
Isto significa que aquela que é um dos maiores grupos editoriais deixa que a sua chancela-mãe publique sem revisão.
Algo tão básico que até um pequeno editor uma vez me disse que, não importava as dificuldades de edição, ele contratava sempre uma senhora para rever as páginas e assinalar até a aparição de manchas brancas (espaços sem letras) nas páginas.
Perante isso, esperar que a Porto Editora tenha alguém na sua cadeia de edição para observar que há parágrafos duplicados ou incompletos parece um serviço mínimo.
Esta situação incomoda-me como leitor, por ter de enfrentar esta má qualidade de edição e pouco poder fazer quando milhares destes livros estão vendidos.
Só que esta situação embaraça-me ainda mais! Porque é um triste sintoma para uma disputa por um mercado pequenho que vai ficando cada vez mais partido em três ou quatro parcelas demasiado grandes.
Se este é o paradigma futuro quando forem quase só "grandes grupos", como continuar a defender um rico mundo editorial de tradução se é para ter livros neste estado?
Se os tradutores são levados ao limite - porque a oferta é bastante e o número de traduções menor - e não há o cuidado de, pelo menos, rever esse trabalho - para preservação de tradutores, leitores e reputações de editoras - de que serve querer ler em Língua Portuguesa?
Em Língua Inglesa e por menos dinheiro os leitores que o podem fazer acabam melhor servidos.
E para captar novos leitores estas condições não são dignas de esforço algum...

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