quarta-feira, 22 de junho de 2011

Menos típico, igualmente interessante

Quando abordei Ritual (aqui) falei de como Mo Hayder inovava nos temas mas escrevia um policial de traços clássicos. Ao falar agora de Pele, contrario um pouco essa ideia.
Neste livro há mais uma noção do que é o policial moderno influenciado pela televisão.
Quero com isto dizer que o apertado período que passa entre o clímax do primeiro livro e o início deste é breve e bem determinado e que o livro se demora com os seus protagonistas separadamente.
Este livro continua a história uma semana depois do anterior e, apesar dos seus dois protagonistas terem colaborado nele, passam quase todo o livro a resolver problemas individuais que se tocam tenuamente perto do fim.
Como numa série televisiva que lide com múltiplos investigadores, vai completando arcos narrativos individuais que os ajude a caracterizar para o futuro, e acaba mesmo por não explorar a fundo um novo caso.
É o inverso de muitos dos detectives que aprendi a admirar e que saltavam de caso em caso, sem definição certa do tempo que passava entre cada um e que se definiam única e exclusivamente pelo seu trabalho no caso e nunca por motivos periféricos.
No entanto é bom ver que Mo Hayder conhece, também, o policial moderno de acordo, por exemplo, com Henning Mankell.
O destaque de detectives dentro de um grupo de investigadores policiais permite que as personagens sejam mais humanizadas - com isso entendendo-se frágeis a nível emocional ou físico, além de vaguearem entre os lados correcto e obscuro da Lei.
Erros concretos e decisões duvidosas são parte destas vidas dedicadas ao serviço de polícia.
Aquilo que ainda falta para o trabalho de Hayder ser melhor é uma exploração mais profunda da especialidade - mergulho para recuperação de cadáveres - de Flea.
Apesar da angustiante cena descrita logo ao início do livro (como no livro anterior já havia), as manobras de Flea ainda não servem inteiramente a trama, surgindo com funções de relançamento das engrenagens da história.
Falta usar o mergulho como fulcro emocional completo.
Espera-se que seja para o próximo livro, que existirá (melhor dizendo, já existe, falta traduzir), como o cliffhanger deste livro deixa evidente.
Afinal de contas, neste livro não houve um mistério resolvido, houve um mistério continuado e outro lançado. Assim vamos seguindo o quotidiano - bastante atribulado, é verdade - do detective Jack Caffery e de Flea.

Pele (Mo Hayder)
Publicações Europa-América
1ª edição - Dezembro de 2010
336 páginas

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