terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pequenos objectos

Quando viajo gosto de fazer o circuito de livrarias, se é que se pode chamar assim a entrar em todos os locais remotamente semelhantes a uma livraria e ir pedindo direcções até uma próxima ou melhor livraria.
Foram várias as surpresas agradáveis que tive ou os motivos para inveja que trouxe ao regressar ao nosso país.
Nas surpresas assinalaria a Toletta, por exemplo, que é uma grande livraria - ocupa quatro cantos numa intersecção de ruas - com identidade de pequena livraria acolhedora, que vende livros antigos a peso usando uma velha balança de merceeiro.
Quanto a invejas, a maior será sempre a quantidade e qualidade de edições de banda desenhada que são editadas com os jornais, em capa dura, papel de qualidade e preços óptimos.
Mas uma das coisas que mais me importou assinalar foi a Juke-Box Letterari. Podem ver na imagem do que se trata, um expositor colocado em algumas das paragens de Vaporetto (e, como poderão notar, nas paragens de Metro de diversas outras cidades) onde se distribuem pequenas edições literárias.
Nesta paragem em particular o primeiro número lançado já estava vazio, noutra todos os livros tinham sido levados e somente na paragem que dava para uma universidade é que todos os livros ainda estavam disponíveis em boa quantidade - e não tirarei ilações daqui, embora me pareça que não fosse um local de regular reposição dos pequenos livros.


Voltando à mesma ideia sobre a qual já escrevera, ninguém se parece importar com a pouca qualidade do papel e da edição - que não deixa de ser cuidada, atenção! - na altura de ler ou de publicar.
Há desde poesia a horror, há experimentação literária, e os seus autores não têm medo de que estas edições possam parecer mais descartáveis do que coleccionáveis - e isto apesar de todos os textos estarem acompanhados de ilustrações de capa interessantes e prefácios de pessoas "assinaláveis".
Estes pequenos livros são tratados como invólucros, veículos para chegar às pessoas e pensados como temporários, recicláveis.
Não faço aqui uma defesa do desprezo do livro, antes penso a mistificação do livro até por ser bastante picuinhas no que trata ao estado geral dos meus livros.
Julgo é que temos de colocar a ideia do livro ao nível popular, ao nível do transversalmente acessível, não só a quem possa ler mas a quem queira publicar.
O que importa a publicidade impressa, o que importa a página que se rasga num virar mais vigoroso se o escritor consegue contactar e tocar as pessoas com as suas palavras?
Não quero dizer que em Portugal não haja quem trabalhe para abrir portas a escritores sem oportunidades, mas não tenho lembrança de um processo assim tão generalizado, diversificado e apoiado como este.
Suponho que o meu objectivo verdadeiro seja o de colocar o escritor e o livro ao nível de qualquer banal profissão e objecto, respectivamente, para sentir que mais pessoas chegarão à possibilidade de ser um e ainda mais pessoas chegarão à realidade de ler um, de novo respectivamente.

1 comentário:

  1. Curiosamente: na estação de comboios de Campanhã (em outras também deve existir) há uma espécie de vending machine, ao lado da habitual dos chocolates, sandes, águas e afins, que vende edições de bolso de livros! Boa ideia.

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