quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Identidade do género

Fotograma de "Nosferatu, eine Symphonie des Grauens"

Dar um género sem tradição nacional a um punhado bem seleccionado de autores é um ganho quase certo.
Se bem escolhidos, como o são aqui, os autores vão pegar nas normas do género com respeito mas sem reverência e construir um trabalho que seja identitário.
Quem cria sabe do mito do vampiro mais do que aquilo que precisa e, com isso, consegue não forçar a inserção no género. Simplesmente encaixa nele.
Cada autor cede um pouco dos seus traços para que a personalidade própria e a exigência do género se intersectem e não se combatam.
Esta comunhão desagua em pequenos desenlaces sobre a pertubação da infância, sobre as crenças de um país, sobre a esperança do futuro ou sobre a sensualidade da música.
São nove contos sobre vampiros e são nove contos sobre as fixações dos autores.
São nove provas de talento que tanto recuam à essência gótica do género (Hélia Correia) como apontam ideias para um futuro que pode abafar os modernismos vampíricos do cinema (Jorge Reis-Sá).
Nove contos singulares em ambientes que até poderiam não resultar (ou não encantar) em versões mais extensas mas que nos deixam essa expectativa.
Houve, no entanto, um conto cuja memória permaneceu comigo acima das restantes: "Vlad, o Impalador" de João Tordo. A violência da infância e o encanto da sua imaginação cruzam-se num ambiente tenebroso de tão reconhecível e deixam ao leitor a marca da dúvida e o peso da decisão sobre se é ficção ou realidade o desígnio do que leu.
Um conto que sozinho exemplifica o que os outros igualmente conseguem, serem declaradas partes dos universos pessoais dos escritores e serem "de género" como quem lê espera.


















Contos de Vampiros (vários)
Porto Editora
1ª edição - Outubro de 2009
144 páginas

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