quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Longo entranhar

Exílio é certamente um daqueles livros que não se deve encarar de ânimo de leve e que não se revela displicentemente. Não é um livro que nos facilite a vida, que se entregue.
Por isso mesmo é um livro que durante bastante tempo se vai entranhando, primeiro reforçando as cenas mais fortes e depois estendendo-se às subtilezas que compôem a vida de um exilado ferozmente diferente de qualquer retrato mais dado a lugares-comuns.
Um homem que, por vezes, se imagina barata, tanto por ser menor que os outros homens, tanto por ser o único que lhes resistirá (mesmo rastejando) para os castigar.
Um homem que inventa mais do que um passado para a psicóloga com quem é obrigado a falar, seja porque já não sabe qual é a sua realidade, seja porque todas as realidades dos exilados são a sua.
Um exilado que aglutina todas as vidas dos que fogem dos seus países de origem. Um exilado que é a representação de todas as vidas exiladas.
Todas as vida exiladas se encontram na mesma violência de solidão que os destinos novos lhes demonstram.
Todos os exilados, independentemente das suas nacionalidades originais, se encontram e se degladiam, como uma família, como um povo.
Ser exilado é uma nacionalidade nova e daí, precisamente sem nação a que chamar sua, os novos espaços são um mundo a conquistar à escala dos grupos que lá se encontram.


















Exílio (Rawi Hage)
Civilização Editora
Sem indicação da edição - Maio de 2010
312 páginas

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