terça-feira, 2 de março de 2010

Deuses caídos

Os deuses do Olimpo deixaram-se cair numa casa decrépita de Londres e vivem no meio da imundice, esquecidos por todos, sobrevivendo de expedientes ridículos e por isso cada vez mais em confronto uns com os outros.
Assim, confinados a uma casa e a uma existência cada vez menos relevante, entram em conflitos e manipulações mútuas, sobretudo quando Eros intervem com as paixões de Apolo para com uma mortal dedicada à limpeza.
Conflitos e manipulações mútuas que levam o humor de Errar é Divino fica mais perto da sitcom do que do tom negro que a decadência destes deuses sugere no olhar sobre a decadência do mundo.
Uma sitcom bastante divertida por muito tempo, extremada pelas personalidades destes deuses que sempre tiveram tiveram os maiores defeitos dos humanos sobre os quais regiam e que se vêm trancados em conjunto num espaço exíguo e desproporcional aos seus egos.
Mais do que o humor, sobressai o interessante do livro vem no aproveitamento dos antigos mitos num espaço moderno.
A imaginação da autora tem momentos de grande interesse em que consegue actualizar a mitologia, do qual substituir a balsa de Caronte por um metropolitano é apenas um pequeno exemplo.
Infelizmente ela encaminha a resolução para uma ideia mais do que gasta, a de que a decadência dos deuses é culpa da falta de fé humana.
Quando essa volta, eles retomam as suas anteriores forças. E nesse processo, ganham uma notoriedade de estrelas da cultura popular, um pormenor que fecha o livro e que tinha sido interessante de ver mais desenvolvido, pois parece que até os deuses só têm direito aos seus 15 minutos de fama - que para eles duram uns milénios - o que levava a que a uma interessante pergunta sobre a indiferença que até os responsáveis por apagar o Sol sofrem.


















Errar é divino (Marie Phillips)
Editorial Presença
1ª edição - Novembro de 2009
284 páginas

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