sábado, 20 de março de 2010

Sete amores

Gosto muito de contos, das suas características próprias, daquilo que os grandes contistas conseguem atingir com um meio mais curto.
Além disso, a mera hipótese de regressar à escrita de Bernhard Schlink, que já me tinha fascinado com O Leitor, levaram-me directamente a este livro.
O Leitor não era um romance muito extenso, mas aqui Schlink revela ainda mais a economia de meios com que é capaz de construir um riquíssimo cenário narrativo enquanto reflecte sobre temas que nos são comuns, mesmo quando partem das particularidades do país que ele habita.
Cada um dos sete contos aqui presente trata das diferentes formas de expressar e de falhar no amor. E em sete contos há espaço para todo o amor, paternal e filial, do amor feito de traição e do amor incontido.
As mais diversas expressões do amor estão aqui, do polígamo que amava cada uma das suas mulheres de uma forma distinta mas que amava ainda mais a sua própria solidão - mas a quem as mulheres demonstraram amar com cuidados redobrados; ao rapaz que amava um quadro - e a ideia de rapariga que ele encerrava - mais do que amava qualquer pessoa.
Cada conto distorce a mais linear noção de amor, tornando-a num caso singular, a merecer estudo redobrado para que se desvende uma outra versão da sempre díspar relação humana com os sentimentos.
Com Schlink, a história da Alemanha para que muitos não querem olhar não anda muito longe, claro, e sobretudo nos dois contos que abrem o volume essa história está muito clara.
A verdade do passado que ressurge com a obtenção do quadro em A Menina e a Lagartixa e as obscuras relações que se estabeleciam entre os dois lados do Muro em A Infidelidade são o motivo pelo qual as personagens tombam para os erros que o Amor envolve.
Nos restantes contos, no entanto, esses erros são próprios da condição humana, nem sempre consciente ou voluntária como fica patente em A Mulher da Bomba de Gasolina, quando o homem desiste da vida que leva por ter finalmente vislumbrado a mulher que o leva a dizer “Tu és a Mulher da Minha Vida, Ela é a Mulher dos Meus Sonhos” (e roubo, com a devida vénia, o título ao brilhante livro de banda desenhada de Pedro Brito e João Fazenda).
Cada conto de amor é um conto de um certo falhanço. Mas o que seria da vida sem alguns erros?


















O Outro Homem e outras histórias (Bernhard Schlink)
Edições Asa
2ª edição - Setembro de 2009
224 páginas

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