sábado, 23 de março de 2013

Para desocupar a realidade

Este é o tipo de cenário que gostamos de encontrar numa série de televisão, um misto de elementos que servem ambos os géneros e que os deixam relaxados no momento de verem - e gostarem - do que normalmente rejeitariam.
Neste misto de policial e daquilo que imagino que eram alguns dos comportamentos femininos que ocupavam os episódios de O Sexo e a Cidade, dá gozo seguir as peripécias pessoais da protagonista pelo meio de uma temática mais chamativa.
Uma forma de entretenimento que é mais confortável - e eficaz, também por conta de alguns gags físicos - num formato semanal de 40 minutos.
Alternativamente, no caso particular deste livro e deste leitor, funciona da mesma maneira numa leitura veloz salvando uma tarde inteira de espera numa repartição das Finanças.
Será o lado de telenovela que mantém uma série destas a correr durante dezenas de livros - como manteria por várias temporadas - mas é a acção que sustenta cada livro.
Diria que a conjugação desses dois elementos é um dos maiores méritos da autora ao ter escolhido a profissão de Caçadora de Recompensas para a sua protagonista, tornando-a numa mulher moderna numa profissão de grande liberdade, mas ainda assim dependente da ajuda masculina de tempos a tempos, assim não inibindo o lado feminino.
Ao fim e ao cabo, servem-se homens e mulheres leitores da mesma forma, com muitos corpos. No caso delas a confluência de homens interessados na protagonista (que, suspeito, serem só uma parte dos muitos que aparecem e desaparecem ao longo da série), no caso deles os cadáveres que se acumulam demasiado perto da zona de conforto da investigadora.
A investigação é enérgica, com uma quantidade de detalhes muito interessantes, mas sobretudo com uma propensão inesperada para o humor que vem diferenciar
Isso ajuda a escapar bem ao tom de envolvimento romântico que se intromete na narrativa e que se torna um pouco mais incómodo quando já estamos no ponto de arranque da resolução do livro.
Sendo assim num único livro, não me deixa dúvidas que a quantidade de homens e indecisões da protagonista acerca deles se tornará cansativo - quer para leitores homens quer para leitores mulheres - portanto será necessário que a imaginação da autora para os imbróglios policiais sejam sempre imaginativos para compensar a repetição do esquema romanceado.
Não serão, por esta única amostra, tramas extraordinárias entre os thrillers no mercado, mas tendo em conta que essa componente recebe apenas metade do foco da autora, direi que lhe concedo o benefício de uma segunda leitura pois o policial não está reduzido a episódios caricatos no intervalo das relações amorosas, havendo um equilíbrio justo.

Mais uma vez, como com Alex Cross, a TopSeller começou pelo meio da série mas com um tomo onde quase tudo é entendível sem acesso ao que veio antes.
Se a série ficasse por este volume, os leitores não ficariam totalmente desamparados sem o que viesse a seguir ou sem a edição dos tomos mais antigos.
Continuando a série, o problema de continuidade será resolvido automaticamente pelos leitores que acompanharem a série com afinco.
Neste caso, opto pela descontração de não pensar a realidade que está por resolver, tal como a realidade que estava em volta do livro à medida que era lido.


Perseguição Escaldante (Janet Evanovich)
TopSeller
1ª edição - Novembro de 2012
312 páginas

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