Há melhor personagem para o humor do que um sacana matreiro de um felino?
O leitor desta crítica que tente agora enumerar mentalmente os felinos desenhados (ou animados) que conhece. Agora faça o mesmo com os canídeos.
Quais deles provocam um riso desarmante e quais inspiram uma respeitável nobreza?... Exacto!
São quase sempre uns verdadeiros malvados, mas são uns fofos sendo malvados. E é por isso que, mesmo quem detesta gatos - porque foi um rato numa vida passada, certamente, estando por isso desculpado de tar desfeita - os adora quando surgem assim desenhados.
Assim num misto de tiras e cartoons divertidíssimos da primeira à última página. Aliás, da badana até à contracapa, numa paginação que não dá descanso e que é mesmo o que se exige para um livrinho assim: que nos massacre com risos libertados sem controlo ou gargalhadas soluçadas tentando ser discretas.
Achá-lo hilariante não quer dizer que não lhe encontre motivos de análise, quer apenas dizer que até a mais cerebral crítica tem de vir do esforço de não permanecer rendido aos instintos.
Divido as piadas do livro em três grupos.
Há aquelas que são Garfieldianas, que dão ao gato uma personalidade própria de personagem em interacção com o seu "criado humano". Muitas vezes são dignas de serem protagonizadas pelo gato laranja, mas essa lembrança que criam torna-as, nalguns momentos, cansativas. E como a exploração deste lado do personagem não é intensiva, não há uma verdadeira personalidade criada, o que é uma pena.
Há, também, aquelas que são piadas humanas vividas por um gato. Ajudam a acentuar o lado caricatural das situações, mas podiam funcionar com várias outras personagens.
Há, ainda, aquelas que são verdadeiros retratos do real comportamento dos gatos. São as que funcionam melhor neste contnexto, por culpa daquele reconhecimento que há de que os gatos são mesmo assim embora com ainda mais azelhice ou desvergonha do que no mundo real.
Se o conjunto não é uniforme pelo estilo de humor, é-o pelo trabalho gráfico, bastante simples mas com a eficácia necessária.
Creio que a simplicidade vem da origem da série, em animação, para simplificar processos. Mas se não se vê o autor a arriscar mostrar uma maior complexidade (na composição de cenários, por exemplo) mostra uma enorme engenho na maneira como torna ágeis as formas limitadas do seu protagonista.
Mas depois desta análise, tenho de voltar ao essencial. Reabro uma livro numa página qualquer e não volto a largá-lo antes do fim.
Pegar neste livro é despachá-lo em vinte minutos na ânsia de mais uma piada ao virar da página. E é, depois, voltar a lê-lo vezes sem conta até que conheçamos as suas piadas de cor mas queiramos, mesmo assim, activar visualmente o seu humor na nossa cabeça.
Enquanto este gato tiver graça, não vale a pena preocuparmo-nos com mais nada!
O Gato do Simon (Simon Tofield)
Objectiva
2ª edição - Janeiro de 2010
240 páginas
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