quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Frankenstein, mais de nome do que de essência

As mais recentes e modernas encarnações do monstro de Frankenstein de que tenho tido conhecimento têm surgido através de banda desenhada (por exemplo, Seven Soldiers of Victory) em que o monstro assume o nome do seu criador e existe ainda incompreendido mas sendo uma mais valia para o mundo.
Aqui a sua existência continua a revelar-se como a de um herói - na medida possível em que um monstro o pode ser - e que agora assume um nome, Deucalião ou não fosse ele o filho do Prometeus moderno.
Victor deixou de rejeitar as suas criações para passar a usá-las como peões para a sua distopia futura em que se assume como ditador de uma obediente raça nova. E o nome que dá às suas criações é meramente funcional, pois mesmo humano - Erika ou Randall - vem seguido de um número que os contabiliza e os deixa saber não serem mais do que um passo intermédio da experiência em curso.
Montado este cenário, Dean Koontz consegue cruzar referências do romance original a elementos de thrillers e neo-noirs de décadas recentes. Pelo caminho acrescenta ainda várias citações ao género em que Frankenstein foi pioneiro, sendo a retransformação de algumas das ideias de Asimov a mais evidente.
Estamos longe da romântica reflexão sobre a Humanidade de Mary Shelley ou a humoradamente subversiva visão da sociedade de James Whale.
Esta é uma trama de acção e mistério a caminho do confronto entre criador e criatura, com as intromissões que pelo caminho se exigem para que o embate não surja demasiado cedo.
No fundo Koontz traçou uma misturada de elementos que resumem várias décadas de elevada criação a um formato mais fácil e atractivo para o público generalista moderno.
Afinal esta é a segunda vida de um projecto televisivo e, sem dúvida alguma, há uma construção que serve a renovação do interesse na trama de curto prazo enquanto a trama maior se desenvolve lentamente.
Nota-se isso mesmo naquela que, desde logo, tem de ser a grande queixa a fazer ao livro: os capítulos curtos que não parecem precisar de estar assim pensados, mesmo sendo esta a a versão livresca de um projecto por episódios.
A história tem de seguir personagens desirmanadas em direcção a um momento de inevitável agregação das suas histórias.
Os eventos policiais que constituem um arco narrativo fechado neste primeiro livro da trilogia são mais interessantes do que são produtivos para a composição das personagens. Pelo menos para as personagens de Deucalião e Victor, que se esperam terem o protagonismo que a sua longuíssima relação de antagonismo exige.
O efeito é cativante, apesar de tudo, sobretudo por culpa de Randall Seis, uma estranha personagem cuja vida interior molda o seu comportamento no exterior do mundo com menos restrições morais e mais foco em elementos que raras vezes preocupam os autores ou até mesmo a vida quotidiana dos leitores.


Frankenstein - O Filho Pródigo (Dean Koontz)
Contraponto
1ª edição - Janeiro de 2011
304 páginas

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