Tempestade é um bom thriller. E sobre isso está tudo dito, porque não interessa que seja um thriller.
A história de um fugitivo dá jeito a quem quer escrever sobre a existência ténue em sociedade.
Ao protagonista, Adam Kindred, foi dado um apelido irónico. Afinal de contas ele surge no livro sem relações de afinidade depois de ter destruído o casamento e com a família do outro lado do mundo.
A primeira relação que estabelece na sua chegada a Londres é um acaso, uma partilha de conversa à mesa de um restaurante. E essa relação casual vai comprometer a sua existência tal como a conhecia até aí.
Como suspeito num homicídio decide-se a fugir num impulso que não compreende mas que lhe soa na cabeça.
A partir daí cai por entre as frinchas da sociedade, abdicando do telemóvel, dos cartões e de qualquer outro dispositivo que hoje é incontornável mas que deixa um rasto da nossa existência.
Torna-se num vagabundo - também por culpa de circunstâncias alheias que o maltratam - e chega ao ponto de abdicar da sua identidade e da sua moralidade.
Fica conhecido como John 1603 e rouba a bengala a um cego para conseguir mais esmolas.
É o ponto que ele necessitava, pois a partir daí pode reconstruir a sua existência com outra identidade, a de um outro "John" que morre pouco depois de obter um passaporte.
Fica-lhe com o nome, com o trabalho, com a casa. Começa a existir com novas possibilidades, arranja uma mulher com quem partilhar a vida, segue os traços gerais de uma vida normal.
Só que é rapidamente atormentada pela identidade passada, que o persegue por via dos que o querem matar, mas também da sobreposição de duas vidas que não podem existir em paralelo.
No fim, quando o thriller se resolve, fica-lhe a dúvida entre com que identidade viver. A que lhe guarda sucesso e orgulho no trabalho ou a que lhe trouxe um amor sólido.
Trata-se de um drama simples de identidade humana - o da melhor escolha - exarcebado pela cisão da identidade social do protagonista.
Do outro lado do thriller até está uma grande empresa farmacêutica, desumanizada e amoral. O que só vem aumentar o drama do indivíduo que descobre que pode viver sem nada e que prova que quanto mais a sociedade sabe de nós, mais fácil lhe é escapar.
A história de um fugitivo dá jeito a quem quer escrever sobre a existência ténue em sociedade.
Ao protagonista, Adam Kindred, foi dado um apelido irónico. Afinal de contas ele surge no livro sem relações de afinidade depois de ter destruído o casamento e com a família do outro lado do mundo.
A primeira relação que estabelece na sua chegada a Londres é um acaso, uma partilha de conversa à mesa de um restaurante. E essa relação casual vai comprometer a sua existência tal como a conhecia até aí.
Como suspeito num homicídio decide-se a fugir num impulso que não compreende mas que lhe soa na cabeça.
A partir daí cai por entre as frinchas da sociedade, abdicando do telemóvel, dos cartões e de qualquer outro dispositivo que hoje é incontornável mas que deixa um rasto da nossa existência.
Torna-se num vagabundo - também por culpa de circunstâncias alheias que o maltratam - e chega ao ponto de abdicar da sua identidade e da sua moralidade.
Fica conhecido como John 1603 e rouba a bengala a um cego para conseguir mais esmolas.
É o ponto que ele necessitava, pois a partir daí pode reconstruir a sua existência com outra identidade, a de um outro "John" que morre pouco depois de obter um passaporte.
Fica-lhe com o nome, com o trabalho, com a casa. Começa a existir com novas possibilidades, arranja uma mulher com quem partilhar a vida, segue os traços gerais de uma vida normal.
Só que é rapidamente atormentada pela identidade passada, que o persegue por via dos que o querem matar, mas também da sobreposição de duas vidas que não podem existir em paralelo.
No fim, quando o thriller se resolve, fica-lhe a dúvida entre com que identidade viver. A que lhe guarda sucesso e orgulho no trabalho ou a que lhe trouxe um amor sólido.
Trata-se de um drama simples de identidade humana - o da melhor escolha - exarcebado pela cisão da identidade social do protagonista.
Do outro lado do thriller até está uma grande empresa farmacêutica, desumanizada e amoral. O que só vem aumentar o drama do indivíduo que descobre que pode viver sem nada e que prova que quanto mais a sociedade sabe de nós, mais fácil lhe é escapar.
Tempestade (William Boyd)
Casa das Letras
1ª edição - Setembro de 2010
412 páginas
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