Acho que é inútil abordar nesta crítica qualquer aspecto da história deste livro, uma luta entre o bem e o mal que tem como campo de batalha o corpo de uma menina.
O seu sucesso, a sua transposição ao Cinema e toda a descendência cultural que originou tornaram o tema - se nem sempre o conteúdo - tão popular que é redundante falar do livro nesse aspecto.
Felizmente que há outro aspecto, de facto, importante de abordar, a construção narrativa.
Começando logo pelo prólogo, um texto de transmissão do ambiente e das sensações que devem acompanhar a leitura do livro.
Não há ilusões - sobretudo para um leitor actual - do que se vai encontrar nestas páginas, mas ser-lhe vedado um acesso obrigatório a contextualizações ou construções rebuscadas de eventualidades futuras é mais sóbrio.
O prólogo é um pressentimento, uma forma de sugerir como o leitor deve abordar a expoectativa e, eventualmente, o efeito do que vai ler.
Depois disso, o texto é sempre uma parte dúvida e uma parte acção - eventos, aterrorizadores ou não.
Há muito diálogo interno, muita pesquisa, até mesmo muitas explicações à medida que a rapariga é levada a médico após médico para a sua condição ser explicada com uma de múltiplas perturbações psicológicas ou à medida que o padre estuda aquilo que terá de fazer.
A muita informação que o livro tem de dar aparece de forma massiva mas não de forma aborrecida, dispersa por diálogos ou reflexões, não como reproduções de parágrafos copiados de livros de estudo.
Será uma leitura exemplar para os escritores que, hoje em dia, enchem os seus livros de informação altamente detalhada mas não a conseguem articular com a simples necessidade de contar uma história.
Não acho que o livro seja de uma qualidade indiscutível quando comparada ao seu passado sucesso, nem acho o tema a leitura mais interessante para mim, seja qual for a ocasião.
Com esses constrangimentos, acho que o reconhecimento da qualidade do labor empregue dignifica bastante o resultado.
Gailivro
1ª edição - Setembro de 2010
344 páginas
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