sábado, 4 de agosto de 2018

Sentença de morte




Por vezes não é possível abordar um livro tirando ensinamentos das suas falhas. Nem sequer é possível tratá-lo com ironia, o que constituiria o único divertimento que ele proporcionaria.
Há que ser directo e brutal e afirmar desde início que Não Digas Nada é um dos piores livros que se podem ler traduzidos para Língua Portuguesa.
Este é o livro que quer fazer passar por thriller a acumulação dos clichés que a literatura roubou ao cinema depois deste os ter ido aprender à literatura.
Resumindo, não passa do rapto dos filhos de um juíz de forma a controlar uma das suas decisões judiciais. Sem saber que decisão, o juíz tenta desvender o mistério por si mesmo, sem nunca pensar em recorrer a alguma das suas ligações nas forças policiais pois está a ser vigiado mas acabando por recorrer à família da sua mulher na hora de necessidade.
O que se segue são decisões atrozes que provam que os personagens não se comportam de forma a que as suas acções possam complicar a trama. São idiotas úteis que levam o fio da trama numa união de pontos previamente numerados.
Até mesmo a crescente mas mal orientada desconfiança do juíz, que deveria ser o motor de tensão do livro, funciona no sentido de acumular páginas a um conjunto de peripécias que não tem substância para tal.
O mesmo a que serve a escolha do cenário jurídico, cujas entediantes e meticulosas explicações dão volume ao livro na mesma proporção em que lhe retiram suspense.
Se tal estratégia faz o livro ir perdendo qualquer excitação que pudesse ter criado no leitor ao início, trata-se de outra a causa que mata a tensão de vez.
O autor deste livro não faz o mínimo esforço para se aproximar daquela lição básica da escrita, show, don't tell.
As digressões narrativas do seu protagonista levam a que se perca tempo em rememoriações sobre actos longínquos que definem a personalidade dos que com ele interagem.
Até durante uma reunião de emergência da família onde cada elemento poderia assumir os seus traços de personalidade na tentativa de estabelecer um plano de acção.
A descoberta do desenlace é pouco mais do que uma obrigação. Mesmo depois dele o autor atraiçoa por uma última vez o leitor.
A cena de acção do costume, com um tiroteio, traz um sacrifício. Sacrifício que tem de ser transformado na versão possível de um final feliz, deixando de o ser para se transformar numa decisão (melodramática) consciente que desconstrói os efeitos da cena.
Espanta-me que o autor esteja perto de completar uma carreira com uma dezena de títulos escrevendo tão mal.
O título deste livro só poder ser o seu pedido para que se esconda a falta de qualidade deste livro dos que o costumam ler.


Não Digas Nada (Brad Parks)
Suma de Letras
1ª edição - Novembro de 2017
520 páginas

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