quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A poesia da aventura

No final deste livro não sobram dúvidas de que François Villon é um personagem extraordinário que, se foi um importante poeta, foi-o também porque viveu uma vida de aventura com alguns traços de canalhice.
O livro de Raphaël Jerusalmy dá bem conta disso mesmo, lançando-o numa caçada por textos que começam a fazer mossa à Igreja no momento que a sua divulgação se torna mais simples e começa a propagar-se por toda a Europa.
O caminho de Jerusalém está repleto de obstáculos, sobretudo supostos aliados que demonstrarão não o ser, no que é a forma de “emperrar” o caminho que ia parecer linear quando o Bispo propôs tal missão para que o poeta se salvasse da forca.
A narrativa de Jerusalmy é também assim, desviando-se pelos caminhos tortuosos do passado do seu protagonista a cada capítulo, que começam sempre sugerindo que vão levá-lo de um ponto da trama ao outro na linearidade do mais típico dos thrillers históricos.
A deriva narrativa é sempre muito cuidada para que o leitor não se sinta perdido mas exigindo-lhe o seu foco.
A recompensa é certa, até porque a escrita do autor procura o refine, o que no seu conjunto afasta este livro do conjunto anónimo de livros que exploram este filão.
Os esfoços de Jerusalmy fazem pensar em aspirações à categoria de Arturo Pérez-Reverte ou Umberto Eco, conseguindo em certos momentos fazer crer nisso mesmo.
O único reparo será para o facto do autor não se deixar levar pela paixão que, certamente, sentiu na escolha de protagonista.
O livro poderia ter mais alguma dose de emoção no acompanhamento de François Villon para temperar a qualidade do exercício cerebral.


Os Caçadores de Livros (Raphaël Jerusalmy)
Clube do Autor
1ª edição - Setembro de 2015
296 páginas

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