terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um divertimento

No texto Utilidade de uma Literatura Erótica, transcrito de uma conferência dada por Boris Vian, esta defende as qualidades dos textos desse género que lhes permitiram permanecer na exigente memória dos amantes da literatura.
As qualidades não eróticas dos mesmos, como a filosofia nos textos de Marquês de Sade, contrariando a expectativa do que deveria ser elogiado nesses textos.
Boris Vian reforça a ideia de que um texto erótico, como qualquer outro material erótico em qualquer suporte, tem uma funcionalidade que passa pela excitação do leitor.
A qualidade literária é questão de somenos para quem pretende escrever dentro desse género (e apetece dizê-lo olhando para o que por estes dias é publicado em catadupa e vende com fartura) que tem antes de mais de dar ao leitor o que o faça palpitar, talvez cumprindo um sistema que invento para o efeito: uma cena de sexo em capítulos intercalados e ameças cada vez menos veladas de tais cenas nos restantes.
Boris Vian faz, então, a defesa dos textos de género que escapam ao género, esquecendo várias vezes a utilidade que deveria estar a abordar.
Parece com isso estar a lançar a provocação para os seus próprios textos pornográficos que leremos de seguida.
Nesse primeiro texto mostra que podem existir textos de elevação literária e qualidade estética que são classificados como eróticos para depois se lançar em tentativas próprias, com momentos bem sucedidos mas raramente com a utilidade em mente.
Textos em que ele joga com o humor, com os subentendidos, com a réplica literata, mas sem grau maior de seriedade.
Como se escrever textos pornográficos fosse uma provocação de um autor sério que se pode - e deve - permitir tudo em nome da liberdade de criação.
E em nome da transgressão final, de não ser sempre sério, de permitir a si próprio - contra a opinião pública ou crítica - tirar prazer do seu talento e do ofício de escritor, deleitando-se com o que raramente é tido como material para escritores de primeira linha.
Do extremamente conseguido (e bem traduzido) divertimento em forma de poema que é A Marcha do Pepino ao momento maior de entre estes textos que é Drencula (leia-se com a pronúncia francesa para perceber bem o seu sentido), não haja dúvidas que todo o potencial para o género erótico sem uma ponta de seriedade estava em Boris Vian.
Mas o seu divertimento maior deverá ter sido mostrar ao mundo um material erótico que alimentasse uma polémica que para ele esteve sempre resolvida.


Escritos Pornográficos (Boris Vian)
Guerra & Paz
1ª edição - Setembro de 2010
98 páginas

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