sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Fantasia, não fantástico

A história que dá título a este livro pareceu-me uma forma fantasiosa de reflectir sobre a inspiração que preenche o autor de uma ideia e, ao mesmo tempo, mostrar que a literatura não é um mester para qualquer um.
Duas figuras separadas por inspiração e capacidade. Uma que muito se esforça mas pouco consegue. A outra que muito consegue sem que saibamos de qualquer esforço.
O que não tem talento terá uma fantástica história para contar, mas apenas o outro saberá como a aproveitar.
Mas se o talento é dado a uma pessoa, a inspiração é dada a outra. Cada um deve usar o dom que lhe calhou da maneira que sabe e sujeitar-se a viver com o infortúnio de nunca poder ter tudo para si e atingir a plenitude.
No final, aquele que tinha a mais bela história a contar esqueceu-a em troca do primeiro amor.
O outro, que tinha o talento, guardava o seu sucesso como escritor e o lamento de nunca conseguir contar a história que todos deviam conhecer.
A pergunta é, pois, o que vale mais, se a substância de uma história ou o talento de artesão para a esculpir.
Embora eu creia, também, que Kipling afirma que um escritor saberá sempre que a perfeição se esfuma, que da imaginação à palavra vai um abismo, e que nem por isso deve deixar de escrever.
Esta história fala de tudo isto - ou julgo eu que fala - através do recurso à inconsciência das vidas passadas que invadem um corpo para se fazerem anunciar ao mundo.
A que se lhe segue, Através das Ondas, versa sobre a inspiração igualmente, mas fazendo valer a ideia de que a ciência no momento da sua descoberta, ainda inexplicada, pode equivaler a magia.
O efeito real da ciência confunde-se com a crença no paranormal, novamente ambas sendo fonte de inspiração.
A história parece redundante ao lado de A História Mais Bela do Mundo e a ideia, talvez original no seu tempo, parece agora datada e mal explorada.
No fundo diria que são exercícios de Fantasia de Kipling o que aqui lemos, não sem objectivos educativos e um claramente melhor que o outro.
Arrisco dizer que são curiosidades a conhecer mas não boas histórias de um escritor que ganhou o Nobel mas continua a ser lembrado como o mero pai de Mogli.


















A Mais Bela História do Mundo (Rudyard Kipling)
Europa-América
Sem indicação da edição - Setembro de 2010
110 páginas

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