segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A natureza do desastre

Blues por New Orleans está bem perto da versão impiedosa do noir que James Ellroy tem vindo a escrever.
O glamour das profissões que se colam à fronteira entre as duas faces do crime substituídas pela verdade brutal do comportamento humano.
Na mistura de polícias, detectives privados, mafiosos, criminosos de ocasião e preconceituosos armados não se está a construir um policial mas um retrato do que a natureza humana tem de mais vil.
Violência, indiferença, ódio, retribuição, desprezo e perversão. Fica tudo à mostra nas acções que atravessam os destroços e que levam os personagens de encontro uns aos outros, de encontro a um destino violento mas pouco trágico perante aquilo que mostraram de si mesmos.
Não se pense, no entanto, que é o furacão que dizimou a cidade em 2005 que promove a descoberta deste lado dos habitantes de Nova Orleães.
O furacão Katrina foi a forma que a Natureza encontrou para se colocar em sintonia com o mais terrível que a Humanidade tem a mostrar.
Se a natureza humana é capaz de ser tão sórdida e obscura, então a Natureza tem, ela própria, de se expressar da mesma forma para provar ao Homem que ele, apesar de tudo, não domina o mundo com esses seus traços abjectos.
A beleza de Nova Orleães apagou-se no gritos do caos que ficou depois da Natureza por lá passar e abrir sulcos para onde se podem lançar os corpos que estavam a atrapalhar a continuada expressão da natureza que os Homens ainda vão encobrindo.


















Blues por New Orleans (James Lee Burke)
Editorial Estampa
1ª edição - Dezembro de 2009
368 páginas

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