sábado, 29 de novembro de 2014

Informação e intenção

Vito Bruschini é um militante da sua própria consciência e, por isso, o que de mais interessante tem o seu livro é a informação que ele revela sem medos ou hesitações, mesmo que parte dela seja trabalhada como ficção.
As suas convicções são o motivo pelo qual escreveu um thriller sobre o domínio empresarial do mundo a partir do controlo da agricultura e da fome por todo o mundo.
O livro é muito interessante no seu início, criando um sentimento de tensão por conta das maquinações de uma sociedade secreta.
Se os planos lá descritos não foram reais, poderiam bem ter sido, com as consequências reais - ou, pelo menos, realistas - descritas no livro.
Atravessando décadas de acontecimentos que sugerem, sem dúvida, conspiração e manipulação, o livro vem até aos nossos dias e a uma sugestão de intenções perniciosas para acções de generosidade humana aparente tomadas pelas grande empresas.
Este entretenimento tem um lado de exigência ao leitor para que deixe de estar desatento e tente obter mais informação em fontes que a tratem como tal.
Não que depois dessa pesquisa se venha a colocar de lado o trabalho do autor - que é jornalista - neste livro, até porque como se tem visto o mundo acaba por procurar e receber cada vez melhor informação a partir de meios de comunicação que utilizam o divertimento como embrulho para ela.
Só mais tarde, a caminho do seu final, é que o livro toma contornos mais comuns, com impossíveis cenas de guerrilha protagonizadas por um grupo de amadores.
A substância que até aí enchera o livro desaparece para dar lugar às cenas de acção.
Aí o interesse do livro esmorece até porque Bruschini não é um executante exímio do género, mas sobra algo assinalável.
Um detalhe que o destingue e que o mostra ainda fiel aos seus princípicos de militância, o de trazer para o papel de heróis um grupo de terroristas com cujas intenções ele claramente se identifica.
Ou talvez seja o grupo a manifestação das suas intenções, a recuperação de um engajamento activo contra a cultura
Faz lembrar um Baader-Meinhof-Bande de índole mais bondosa mas com a mesma determinação, como se o autor tivesse algo como um sentimento de saudosismo com revisão utópica do que foram décadas passadas de luta contra o fascismo corporativo.
O livro não termina com heroísmo, termina com uma admissão de impotência. A ingenuidade não tem lugar neste mundo pois também disso podem as corporações servir-se para atingir os seus fins.
Se a intenção é apenas de alerta ou se há mesmo um incitamento ao retorno de um activismo político mais feroz, talvez só o autor possa garantir.
A maioria dos leitores ficará, sem dúvida, apenas pela qualidade da informação e de como ela é trabalhada em forma de conspiração.


Os Segredos do Clube Bilderberg (Vito Bruschini)
Clube do Autor
1ª edição - Julho de 2014
420 páginas

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