sábado, 8 de março de 2014

Os livros que tornam os outros melhores


Para se estar satisfeito mesmo perante os problemas que os livros de James Patterson possam ter, basta ler o equivalente de Alex Cross: A Caça da década de 1960.
Esse livro é Cadáveres para Cuba, material que merece estar arquivado na categoria de Exploitation.
Trata-se da história de um detective nascido ainda nos penny dreadfuls do final do século XIX e cuja existência se prolongou por tantas décadas que deixou de ser um personagem para passar a ser uma figura adaptada a qualquer situação por mais implausível que seja.
Neste caso, uma aventura na Cuba de Fidel Castro onde serve de guarda-costas a uma herdeira britânica.
O início do livro assemelha-se ao de um policial britânico. Depois, com a chegada a Cuba, torna-se numa espécie de thriller político. Mais adiante assume a centralidade das cenas de guerra. E isto antes de terminar com um regresso à história que marcava o início do livro.
O problema, claro, é que nenhum destes momentos combina, ficando como arcos narrativos que foram agregados no livro mas que nunca poderiam combinar-se.
Um livro que está ao nível dos piores dos filmes Euro War (para esta comparação era mais singificativo chamar-lhes pelo seu outro nome, Macaroni Combat) que a Itália produzia quase sem orçamento na mesma década a que este livro pertence.
Parece mesmo incompreensível que o livro partilhe com esses filmes, além da má escrita, os cenários esquemáticos e a falta de meios para as cenas centrais.
Isso fica pela culpa do autor, seja lá ele quem for... Certamente que Arthur Kent é o pseudónimo de um autor, senão de mais ainda, e nem se pode ter a certeza se o texto não terá sido alterado pelo editor antes de ser impresso.
Os males da obra parecem contaminar a própria edição, cheia de gralhas e sem cuidados de revisão. Num certo sentido, a edição faz justiça ao livro, exponenciando os seus (muitos) defeitos de origem.
Um quantidade absurda de gralhas, falta de revisão e um descuido absoluto na tradução que torna algumas frases totalmente incompreensíveis.
No espaço de quatro páginas, Karl Marx consegue ser "Carlos Mark", "Carl Marcos" e (finalmente) "Carl Marx". E as pessoas da direita (política) começam por ter ideias "fascinantes" para depois serem "fascistas" convictos.
Por momentos ainda se julga que a causa destes momentos estranhos era de alguma censura do Estado Novo, mas são apenas erros clamorosos.
Junte-se-lhe o papel de má qualidade, as páginas cortadas de forma desigual e as palavras impressas em desalinho, e a experiência com este livro só pode mesmo ser a de guilty pleasure (que será sempre muito ocasional), nas más condições em que um livro destes deveria ser lido.
Para culminar tudo isto, a capa da edição nacional não tem nada que ver com o conteúdo, pois não há vestígios de um espião ao estilo James Bond rodeado de mulheres atraentes.
Uma experiência divertida (ou, pelo menos, curiosa) mas que nos leva a ter condescendência com os thrillers de acção que são escritos cinco décadas depois.

Cadáveres para Cuba (Arthur Kent)
Editorial Ibis
1ª edição - Maio de 1969
168 páginas

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