sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Título errado

O título deste livro e a colecção - dedicada ao thriller - em que se insere fizeram-me esperar uma história de ressentimentos e vinganças baseadas em disputas raciais 
Por isso é que, até meio do livro, estava profundamente entediado e desgostoso com o livro.
O livro não é um thriller e o seu título original - The Turnaround - tem mais significados guardados do que o único que o título nacional apresenta.
Quando esqueci o que pensava que era o livro e aceitei aquilo que ele estava a ser, fiquei menos insatisfeito do que até aí, mesmo se não consegui evitar a sensação de que estava a ler o livro errado para mim.
Este é uma reconstituição dramática do ponto actual em que estão os temas de debate racial da década de 1970 dos Estados Unidos da América.
Uma reconstituição que está mais interessada numa visão global do que foi e do que é a questão racial no país ou melhor, na cidade de Washington - e não num estado sulista, claramente mais complicado para uma visão de transformação positiva.
Daí que as personagens de Pelecanos sejam bastante resumidas na sua personalidade, o que as leva ao ponto de meras engrenagens de um argumento que o autor quer demonstrar.
Um argumento que aponta o lastro de um acto irreflectido da juventude como o erro maior na vida das personagens. A culpa que cada uma impõem a si mesma é a causa do arrastar das suas vidas pelos caminhos mais indignos ou infelizes.
O erro é o que se repete para si próprio dos estereótipos que a inconsciência racista gerou, com isso manietando a vida rica que deveriam ter vivido apesar do que cada um passou.
Nessa demonstração do argumento, o livro termina com um arranjo demasiado polido para as personagens e para o olhar do futuro - que pode começar aos cinquenta anos e numa união de raças.
Os maus sofrem as consequências da forma como arrastam o seu erro tentando explorá-lo, enquanto os bons têm a alegria de ver as suas acções de vida substituírem o mal de outrora.
Devia haver áreas cinzentas, sobretudo considerando que um dos personagens culpado mas teve o benefício de que outro lhe ficou com a culpa pública, mas não há. Há apenas uma esperança feliz e ingénua do que a América ainda pode conseguir olhando com calma e determinação para o seu passado conturbado nos assuntos de raça e, através dele, para o seu futuro cheio de possibilidades.
Talvez Pelecanos estivesse certo, pois no ano seguinte a editar o livro Obama tornar-se-ia presidente, mas o que escreveu não é interessante, carregado de uma mensagem com boas intenções.


Acerto de Contas (George Pelecanos)
Editorial Presença
1ª edição - Janeiro de 2010
236 páginas

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