segunda-feira, 11 de maio de 2015

O tipo errado de "peregrino"

Estes contos de Pedro Miguel Rocha queres ser retratos de soluções utópicas para problemas do mundo actual. Do Acordo Ortográfico e da padronização do ensino da Língua  à força política e independência portuguesa.
Só com boa vontade se podem ver soluções para problemas reais quando os textos não vão para lá de uma estilo que tem muito de condescendente - até na mora com que muitos se despedem - o que lhe retira a aura de ingenuidade que pudesse ter.
Combinado com o abuso das parábolas, metáforas e personificação o livro parece mesmo um conjunto de textos infantilizantes que tomam o leitor por limitado.
A nenhuma outra conclusão se pode chegar quando um dos contos é sobre um rapaz que, num sonho, percorre um bairro onde moram os Sete Pecados Capitais e cresce para escrever um livro que transforma toda a Humanidade.
O autor até se mostra inspirado pela filosofia de José Saramago e sonha uma espécie de José Saramago e sonha uma espécie de Jangada de Pedra feita de Portugal e Galiza - ideia de Estado que o autor defenderá outras vezes - mas não há forma de levar a sério como literatura adulta estes Contos Peregrinos.
Ainda que Tiago Patrício a defenda passando para o leitor o erro pela incapacidade de se render ao sonho do autor.
Aos poucos, o cinismo quotidiano e a corrupção da linguagem roubaram-nos a hipótese de pensar a esperança e sempre que um texto evoca outras possibilidade é difícil deixá-lo chegar ao fim. O Censor que deixámos instalar dentro de nós avisa-nos do excesso de ingenuidade e faz soar um alarme porque estamos a entrar num terreno perigoso, próximo da utopia, um lugar cada vez mais impossível de visitar, tal como um futuro em comunidade.
Culpando o cinismo, Tiago Patrício transporta a rejeição do leitor para um patamar de falhanço humano.
Uma espécie de sentimento de culpa que ignora que é pela evolução - em direcção ao cinismo, se tal for sinónimo de maturidade e questionamento - que o leitor aprecia ou não o que está para lá da ingenuidade das ideias - o que, repito, não existe ou o escritor não referenciava Teixeira de Pascoaes.
Este posfácio tem, pelo menos, o mérito de desafiar o leitor - como tem o de Carlos Quiroga - a procurar no texto que o precede aquilo que outros nele viram.
(Não se encontra, mas tenta-se ainda assim...)
Só que com cada um dos quinze contos a ter o seu próprio posfácio, acabam estes por parecerem favores de circunstância na sua maioria.
Por autores melhores do que Pedro Miguel Rocha - Mário de Carvalho ou Ondjaki entre eles - que estes sejam mais significativos do que os próprios contos é um sinal terminal para o livro.
Estes contos são peregrinos por estarem muito mais para o lado do desajuste do que para o lado da singularidade.


Contos Peregrinos (Pedro Miguel Rocha)
Esfera do Caos
Sem indicação da edição - Maio de 2014
184 páginas

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